quinta-feira, novembro 4

AS CONCLUSÕES DIFÍCEIS DAS ELEIÇÕES AMERICANAS:
1) Bush teve uma vitória avassaladora. Televisões e jornais ingleses (os de esquerda) não conseguem fazer um balanço sem deixar cair a expressão «narrow margin». É falso. Foram estas mesmas televisões e jornais que me ensinaram como o sistema eleitoral americano assenta num país dividido em duas partes quase iguais, com uma franja de eleitores voláteis muito pequena. Por isso mesmo, os resultados são sempre aproximados e dependem dos (poucos) Estados onde as duas forças estão mais equilibradas. Ora Bush conseguiu guardar os bastiões republicanos; ganhou em quase toda a linha nos territórios indecisos e até chegou a ameaçar alguns portos seguros dos democratas. As estatísticas ainda dizem mais: nenhum presidente conseguiu reunir tantos votos populares.
2) A opinião da imprensa não faz ganhar eleições. Alguém se lembra de algum título de referência que tenha apoiado George W. Bush? New York Times, Washington Post, Economist... a lista de derrotados é incrível.
3) A guerra foi referendada. E ganhou a opinião dos que a apoiaram. Durante o auge de John Kerry nas sondagens, editoriais de todo o mundo reclamavam que, tal como aconteceu com Aznar, o povo iria manifestar-se sobre o conflito. É inteiramente verdade. E agora é forçoso reconhecer que nos Estados Unidos o resultado foi diferente. Tal como diz o editorial de hoje do Telegraph: «Bush’s re-election demonstrates that the leaders of the war on terror have enough support to preserve in their task». A triste verdade.
4) Os americanos gostam de Bush. Por muito que custe a europeus e intelectuais MichaelMoorianos, a administração Bush é aquilo que os americanos querem. A economia está mal, a guerra parace ser infindável, as notícias de raptos e mortes são diárias, o antiamericanismo cresce no exterior e a imprensa não pára de bater. E mesmo assim, o cowboy ganhou.

quarta-feira, novembro 3

PUTAIN, QUATRE ANS! Faço minha a exclamação do Courrier International.

segunda-feira, novembro 1

IGREJA Terminou hoje em Paris uma mega-operação de charme da Igreja Católica. Durante uma semana foram organizados debates, concertos, teatro e muitas animações por toda a cidade, tudo para tentar recuperar uma visibilidade que lhe tem faltado nos últimos tempos. Para isso, teve de recorrer a alguns "truques" para chamar a atenção das pessoas, em especial dos jovens: concertos de "pop-rock cristão", "girls bands" e uma cruz de 17 metros plantada em frente à Notre Dame. Mas nem a mobilização anunciada de milhares de pessoas consegue esconder a perda de influência do Vaticano no Mundo: George W. Bush invadiu o Iraque, apesar dos pedidos contrários do Papa, Buttiglionne foi afastado da Comissão Europeia por seguir a doutrina do Vaticano e a Constituição Europeia acabou por ficar sem a referência à "herança cristã". Deus lhes valha.

quarta-feira, outubro 27

MARCELO E O DN. Hoje vi todos os noticiários e jornais portugueses. Li comunicados e reacções. Ouvi desabafos e rumores.
Depois fui aquecer água para fazer o café manhoso do supermercado aqui do bairro. Odeio café manhoso. Sentei-me no sofá roçado de casa sem deixar de pensar que o senhorio ainda me há de fazer pagar estes estragos que não fiz. Puxei um cigarro do maço de 7,5 euros e reparei que a porra da chuva não parava.
1585 quilómetros separam-me de Lisboa.
É o que me vale.

sábado, outubro 23

FUNDAMENTALISMOS. De acordo com a imprensa inglesa de hoje, esta é a nova forma de a União Europeia potenciar o vício do paternalismo. Como sempre, vou fumar um cigarro para não me irritar mais.

sexta-feira, outubro 22

TRANSPARÊNCIA. Todos os jornais ingleses de qualidade apresentaram hoje análises exaustivas sobre os gastos dos políticos ingleses. A base do trabalho é um relatório oficial divulgado ontem, no qual estão descritos os salários e as despesas particulares de todos os parlamentares e membros do governo. Entre outras coisas, fiquei a saber que os contribuintes deste país têm de pagar mais pelos custos de vida dos seus representantes (média de 15 mil euros mensais) do que pelos seus ordenados (valor fixo ronda os 7000 euros). Alguns jornais também desconstruíram as tabelas construíndo rankings onde se podia perceber quem viaja mais, quem reclama mais dinheiro para o staff pessoal, quem paga mais por material de escritório, etc, etc.
Há quatro anos, durante uma curta viagem ao Brasil, comprei uma edição especial do Estado de São Paulo com um suplemento chamado «Olho no Senado». Na prática, era exactamente a mesma coisa, mas com a diferença de a informação não ter origem em qualquer relatório, mas no próprio trabalho de investigação do Estadão, realizado ao longo de um ano inteiro, através da consulta de todos os ofícios e registos parlamentares.
E nós?
É simples: nem relatórios oficiais, nem investigação jornalística.

quinta-feira, outubro 21

ISENÇÃO. Sou um adepto fervoroso do jornal Jogo. Sobre o jogo de ontem contra o PSG, por exemplo, na hora de eleger o melhor portista em campo, escrevem os jornalistas do isento diário que a estrela é Seiteradis. Porquê?
«O Valente Grego. Foi sem dúvida o melhor elemento portista. Esteve seguro a defender e a prova disso está na saída precoce de Rothen - lesionado - em teoria um dos mais perigosos dos parisienses.»
Mai nada!
ADEUS RONALDO. Um dia, num pequeno jornal de um país remoto da América Latina, alguém se lembrou de fazer uma espécie de face-lift às fotografias dos cronistas. Era preciso actualizá-las, diziam, para adequá-las melhor ao desenho gráfico. Sucedeu que o principal cronista desse jornal – o único realmente bom, diziam algumas vozes maldizentes –, não gostou da nova imagem. E pediu (suspeito que «exigiu» é melhor termo) que voltassem a pôr a antiga. Ainda estribucharam os mais empenhados reformistas do traço, mas o responsável maior do dito órgão provou a sua sabedoria com um murro na mesa: «Esse senhor é o nosso Ronaldo. Se o Ronaldo dissesse ao Real Madrid que queria chuteiras amarelas, jogava com chuteiras amarelas. Ponto final». Parágrafo.
O MITO GARANTÍSTICO. As leis laborais são uma das coisas que mais admiro no pragmatismo anglo-saxónico. A começar pelas regras de despedimento. Nos dois primeiros anos de trabalho, qualquer empresa inglesa pode despedir um trabalhador dando-lhe apenas uma semana de aviso prévio. A partir daí, por cada ano de trabalho, é obrigada a dar-lhe mais uma semana correspondente, até a um máximo de 12. Facto interessante: Como a rotatividade de empregos aqui é tão grande, pouca gente se apercebe desta última cláusula. «Uma semana» é a única referência que interessa reter. A partir daí, num mercado descomplexado com trabalhadores descomplexados (ou seja, onde desemprego é igual a preguiça), é só uma questão de procurar e começar novo emprego. Quando falo disto com compatriotas, há sempre quem queira defender a terra dizendo que isto só é possível num país em que a palavra «crise» não se lê nos jornais há mais de oito anos. É a má desculpa de velho perdedor, como diria o poeta disléxico. Mas seja. Dou um exemplo melhor: os salários. Todos os anúncios de emprego publicados na imprensa referem sempre o ordenado anual bruto. É assim que são feitas as contas: ao ano. A consequência óbvia é que não há cá subsídios de férias, 13º ou 14º mês. A empresa limita-se a dizer o que está disposta a tirar do seu orçamento anual para pagar ao funcionário. Se ele quiser pode dividir o valor por 12, 13 14 ou até 24 prestações e dizer que o patrão é tão bom que lhe paga a dobrar todos os meses. Mas não o faz porque seria folclore. Como é folclore que as empresas do nosso e de outros países continentais sejam obrigadas a dar um pack chorudo de garantias para depois, inevitavelmente, baixarem o valor de cada mensalidade.
Não é uma questão de ideologia, é uma questão de pragmatismo.

quarta-feira, outubro 20

AGENDA. Ainda não tive tempo de comprar a Time Out mas já sei que: começa hoje o London Film Festival; começa sábado a Affordable Art Fair, em Battersea Park; e que estrearam pelo menos três coisas que quero ver – a maior exposição que por aqui passou da obra de Rafael, na National Gallery; outra, sobre ilusões ópticas, que deixou os críticos em estado de delírio, na Hayward Gallery; e finalmente a nova instalação sonora da Tate Modern. Como não gosto de fazer de crítico de arte, ficam só com o teaser para me poderem invejar. E não, o tempo até nem está assim tão mau!
CENSURA É uma questão de honra: se acontece na Polinésia francesa, em Portugal também queremos.

terça-feira, outubro 19

JORNAIS DE TODO O MUNDO, APARVALHAI-VOS. Há dias em que os jornais desta terra têm tantas coisa para ler como qualquer número dourado da Vanity Fair. Hoje foi o Guardian. Mesmo para quem está farto de guerra, como eu, compensou esforçar o sobrolho e ler mais uma excelente crónica do pró-David Aaronovitch (o homem já foi premiado por defender tão bem a guerra num jornal de esquerda); e o comentário inteligente do contra-Arthur Schlessinger (ex-conselheiro do presidente Kennedy e autor do livro Vital Center, onde Fukuyama foi buscar quase tudo menos a referência bibliográfica). Para terminar, mais uma sugestão de leitura, mas esta com dois dias de atraso: o editorial em que o New Yor Times assume a sua posição nas eleições presidenciais. «...we enthusiastically endorse John Kerry for president», Dia 17 de Outubro. Mesmo sem contraditório, é muito bonito.
OLÁ. Não faço ideia se devo anunciar o regresso à linha do Estrangeirados, em ritmo normal, porque tenho dúvidas quanto à nossa disponibilidade e o vosso interesse. De qualquer modo, até porque já é Inverno, tentar não custa. Além de que me seria completamente impossível deixar que o Estrangeirados morrese com um último post preenchido por uma citação do super-reitor da Católica. Isto é um blogue sério e decoroso. Não deixaríamos nunca que o fanatismo e a ignorância prevalecessem no nosso espaço. A todos, um abraço de boas vindas.

segunda-feira, outubro 4

"SOU UM DEFENSOR DA INTERVENÇAO DOS PODERES PÚBLICOS PARA MAIOR REGULAÇAO DOS LOCAIS DE DIVERSAO" Nos meus tempos de UCP, comentava-se que Herman José se tinha inspirado no reitor para criar o Diácono Remédios.
SÓCRATES disse que o PS "está presente e está de volta" e quer liderar a oposição. Confesso que não sou muito bom a decifrar metáforas, mas vieram-me à ideia umas imagens dos Jogos Paralímpicos de Atenas, quando Oscar Pistorius, um corredor sul-africano com próteses nas pernas, arrancou depois dos seus concorrentes na corrida dos 200 metros e conseguiu ganhar na recta final. Venha daí.

sexta-feira, outubro 1

TURQUIA Hoje tivémos a confirmação: Nicolas Sarkozy vai ser presidente da República em França, mas não já em 2007. Como é que chegámos a esta conclusão? Ora, foi o voluntarioso ministro das Finanças, futuro presidente do partido da maioria parlamentar (UMP) e potencial candidato à presidência da República a avançar no passado fim-de-semana com a ideia luminosa de realizar um referendo em França sobre a entrada da Turquia na União Europeia. E eis que Jacques Chirac declara oficialmente hoje, em Estrasburgo, que "os franceses terão uma palavra a dizer" sobre este assunto, acrescentando que a questão só se colocará dentro de "dez a quinze anos". Sendo os mandatos presidenciais de cinco anos, será que podemos esperar mais um quinquénio de Chirac no Eliseu e uma passagem de testemuno em 2012? Ou o presidente já está a antever uma vitória dos socialistas nos próximos tempos?
KERRY vs. BUSH Bastou um pouco de dramatismo dado pelas sondagens dos últimos dias, que atribuíam uma vantagem a George Bush na corrida para a presidência dos EUA, para o primeiro debate televisivo organizado ter ganho contornos espectaculares e decisivos para o futuro de John Kerry. Os olhos do mundo inteiro concentraram-se na Universidade de Miami. Felizmente, como num bom western, o cowboy conseguiu levantar-se e dar um soco no proprietário que quer à força possuir as terras todas da planície. Este nada mais pôde fazer senão montar no cavalo e voltar ao seu rancho. Aguardam-se novos confrontos. E nós aqui a ver.

segunda-feira, setembro 27

LISBOA vs. PARIS O Rui resolveu abrir uma pequena polémica sobre Paris. Permitam-me dar uma achega a favor do André sobre o que Paris tem: um presidente de Câmara que consulta os seus habitantes sobre as prioridades e os grandes projectos para a cidade, que apoia a realização de sessões de cinema para surdos e cegos, que aluga táxis para deficientes físicos, que resiste às pressões dos automobilistas e insiste nas ciclovias, que fez de uma praia artificial em Paris um sucesso copiado em vários países, que continua a abrir o Hôtel de Ville durante a Nuit Blanche, apesar de ter sido esfaqueado logo na primeira edição, e que accionou um processo contra o presidente da República por causa das despesas ilegais que este (e a sua mulher) fez ocupava quando as mesmas funções... O resto, meu caro Rui, é paisagem.

sexta-feira, setembro 24

TODA A VERDADE Neste momento em que escrevo, a RTP está em directo a espreitar por uma janela da garagem do edifício da Polícia Judiciária em Portimão para ver se os principais suspeitos chegaram às instalações. Pediu licença, afastou os mirones que esperavam para apupar a mãe e o tio da criança alegadamente morta e meteu a objectiva no "buraco da fechadura". Se a RTP anda assim, nem quero saber o que terá feito a TVI.

sábado, setembro 11

11S Fez ontem três anos que me instalei em Paris. Esta data seria provavelmente esquecida, não fosse o que se passou no dia seguinte. Como estava mais preocupado em encontrar trabalho e ainda andava a descobrir a cidade, não me apercebi de nada de anormal durante todo o dia. Não passei em frente a lojas com multidões a ver as televisões, não andei em autocarros onde o assunto fosse discutido, não tinha televisão e a rádio estava permanentemente ligada na TSF, mas a francesa, que só interrompe o jazz à hora certa para dar umas notícias pouco desenvolvidas. E assim passei um dia completamente alienado do "acontecimento que mudou o mundo". Ainda tenho algumas edições de jornais de 12 de Setembro que me apressei a comprar, mas será que é possível compreender o 11 de Setembro sem ver as imagens dos aviões a entrarem pelas torres dentro, das pessoas chocadas a chorar, das torres a caír e da imensa poeira que se abateu depois? Este Verão ouvi o relato de um nova-iorquino que assistiu a tudo do telhado do seu prédio, onde nos sentámos num fim de tarde a beber umas cervejas. Sem puxarmos pelo assunto, ele apontou-nos o lugar vazio onde deveria estar o World Trade Center. Contou como alguém o acordou com o telefone, como uma pequena multidão de vizinhos e conhecidos se juntou no telhado para ver o que se passava e como todos se afundaram em lágrimas quando as torres caíram. E lembrou ainda o pânico quase infantil causado por outro avião - certamente uma aeronave militar ou de socorro - que sobrevoava a cidade, fazendo um monte de adultos gritarem de mãos no ar e correrem sem destino à volta do pátio. Esta podia ser perfeitamente uma cena de um filme cómico. Mas naquele momento não nos lembrámos de rir.

quinta-feira, setembro 2

OS JORNAIS E MICHAEL MOORE. Adoro o USA Today. Ou melhor, adoro o sucesso do USA Today. Foi o primeiro jornal do mundo (dentro do ranking dos melhores, pelo menos) a decidir que todas as páginas teriam cor e todas as secções infografias. Ainda hoje uma mão cheia de inúteis mentais acha que os produtos jornalísticos são tanto mais sérios quanto mais cinzentas forem as páginas. Mas adiante. Lembrei-me de vir aqui louvar o USA Today pela genial estratégia de pôr o Michael Moore a fazer a análise da Convenção Republicana. Pessoalmente, até acho que ninguém pode gostar verdadeiramente de Michael Moore. Ou se detesta ou se tolera. A escrita é pobre, os argumentos desproporcionados e mesmo os factos, apesar de verdadeiros, acabam distorcidos por tanta militância política. Mas é o homem do momento. Isso ninguém questiona. Pô-lo ali, na toca do lobo, sujeito a insultos que se converteram em notícia por todo o mundo, é um golpe de mestre. Nisto tudo, as crónicas são o menos. De qualquer forma, se quiserem ver, a última está aqui.

terça-feira, agosto 31

EXCITAÇÕES. É incrível como o tema do aborto, mais que qualquer outro, consegue despertar tanta falta de racionalismo e pragmatismo. Agora foi a história do barco. A maior parte das pessoas favoráveis à despenalização insiste em ignorar que perdeu um referendo e que a lei (bem como o sentido da mesma) está feita para condenar o aborto como um crime. É errada, hipócrita, repugnante? Pessoalmente não tenho dúvidas que sim. Mas foi aprovada pelo País em referendo e num referendo recente. Por isso, dizer que o ministro da Defesa fez «a maior afronta à democracia» por ter proibido a entrada do barco é completamente descabido. Para me convencer a mim, pessoalmente, nem precisavam de invocar leis marítimas. É mesmo a lei do aborto a única coisa que importa. Se é ilegal, é ilegal, não me venham com manhas de esperteza saloia para contornar resultados eleitorais. Isso sim é uma afronta à democracia.

terça-feira, agosto 24

ANTES DE IR DE FÉRIAS Aqui está uma aplicação interessante. Tenha-a sempre perto de si. Por falar em férias, esta semana vou estar à praia. Quando voltar faço o relatório sobre NY, porque esta avaria no computador estragou-me os planos. Até já.
CRETINICE Era o que faltava, sondagens a perguntar o que os portugueses "acham" da prestação dos atletas portugueses em Atenas. E não é que estes respondem?!
LANÇAMENTO DO DISCO Os computadores sabem ser ingratos nas piores alturas. O meu disco rígido morreu, com a sempre dramática perda de documentos, preferências, hábitos, favoritos, etc. Mas o pior foi quando perdi estupidamente a cópia mais recente dos contactos. Por isso, aproveito para pedir desculpas públicas se não escrever ou telefonar a alguém nos próximos tempos.

quinta-feira, agosto 19

NÚMERO 7 No início também achei ridícula a ideia de o Figo sair e depois voltar para jogar no próximo Mundial, se a selecção se qualificasse. Mas agora não me faz assim tanta impressão. Pior fizeram o Zidane e o Rui Costa, que fecharam a porta de vez. Se ainda lhe sobrarem pernas para ir à Alemanha, será bem vindo.

quarta-feira, agosto 18

EMIGRANTES Há muito tempo que mudou o perfil tradicional do português que luta lá fora pela vida e depois volta a Portugal para passar a terceira idade na vivenda que construiu na aldeia. Agora preferem passar uma confortável reforma no estrangeiro.

terça-feira, agosto 17

DURÃO, O VILÃO Os franceses estão chateados com José Manuel Barroso porque o comissário que enviaram para Bruxelas, Jacques Barrot, recebeu uma pasta, a dos Transportes, pouco significativa face à importância do país como na União Europeia. O editorial do Le Figaro de sábado, 14 de Agosto, começa por citar uma constatação do Financial Times: "A França tem uma pasta menos importante que a Lituânia". Para o editorialista, esta foi uma "humilhação política" e uma "desagradável surpresa". O Le Monde de terça-feira, 17 de Agosto, procura resposta para a questão: "Porque é que a influência francesa enfraqueceu em Bruxelas". A opinião geral é a de que França foi "sancionada", nas palavras do ex-MNE socialista Pierre Moscovici, pela arrogância usada muitas vezes no trato com as instituições europeias. E vários observadores notam uma falta de confiança no motor franco-alemão, acusado de contornar e baralhar as directivas comunitárias para gerir os assuntos internos, como foi o caso do défice público. A verdade é Jacques Chirac não se pode queixar senão de si mesmo: apoiou o belga Guy Verhofstadt na corrida à presidência da Comissão, aceitando por fim Barroso pela sua reconhecida francofonia. Menos talentos linguísticos tem Jacques Barrot, ex-lider parlamentar do partido chiraquista UMP, quem dizem que não dominar sequer a língua de Shakespeare. O presidente francês preferiu um boy para o lugar do que manter ex-chefe de gabinete de Jacques Delors, Pascal Lamy, figura bastante apreciada e a quem Barroso não teria coragem de fechar a porta no círculo liberal que os franceses agora o acusam de ter criado. Uma coisa é certa: foi preciso Durão ser importante para os jornais franceses deixarem de escrever Juan Manoel e coisas do género e aplicarem-se a colocar o acento no José.

quarta-feira, agosto 4

PASSEIOS Por falar em transportes, fiquei impressionado com a quantidade de deficientes motores que recorrem ao autocarro para se deslocarem em Nova Iorque. Por norma uso o autocarro para viajar dentro da cidade e posso afirmar que em pelo menos 40 viagens, 35 fi-las na companhia de pessoas em cadeiras de rodas. Além de todos os veículos poderem "ajoelhar-se" para facilitar a entrada a pessoas mais idosas ou com dificuldades de locomoção, possuem um elevador hidráulico que permite a subida das cadeiras de rodas e vários bancos que podem recolher-se para dar lugar a estas pessoas, que entram empurradas ou sozinhas, quando possuem um modelo eléctrico. Em Paris, apenas uma parte dos autocarros está preparada e em Lisboa, até há poucos anos, ainda se recorria ao sistema do autocarro especial. Eu posso compreender que a renovação da frota seja gradual e que isso implica um esforço financeiro e uma sensibilização dos responsáveis. Mas o que o caso de NY prova é que as pessoas não têm medo de sair para a rua, onde, pelos vistos, podem circular à vontade e em segurança. E não estou a falar apenas das chamadas "barreiras arquitectónicas" que dificultam o movimento das cadeiras de rodas. Portugal tem um problema especial com o qual, o mais cedo possível, terá de lidar: a calçada portuguesa.

À GRANDE E À FRANCESA (já foi o tempo...) Ao contrário do que se passava quando em meados de Julho deixei satisfeito uma Paris chuvosa, quando voltei no domingo estava calor. Um tempo veranil que apenas lamentei quando entrei no aeroporto no comboio com destino à cidade e a casa. Na segunda estação entraram dezenas de pessoas que tornaram ainda mais evidente a urgência em instalar ar condicionado neste meio de transporte. Aqui notei uma diferença importante com Nova Iorque, onde entrar para o autocarro ou metro é o mesmo que encontrar um oásis no deserto. A diferença é tal que há quem aconselhe - com exagero - um agasalho propositadamente para usar nos transportes e estabelecimentos, todos bem climatizados. Pelo contrário, a RATP (empresa que manda nos transportes urbanos parisientes) vela certamente para que os seus clientes e turistas não se constipem logo quando entram no país e na capital. Depois queixem-se da canícula.

segunda-feira, agosto 2

HI GUYS, HOW ARE YOU DOING TODAY? É com esta típica expressão canadiana que anuncio o regresso ao fim de três semanas de férias. Tenho muita coisa para contar e fotografias para mostrar, mas agora também tenho de trabalhar. Vão aparecendo por aqui. Até já. Vou voltar à rotina. E ainda bem.

terça-feira, julho 27

UMA (VERDADEIRA) CIDADE UNIVERSITARIA Depois de uns dias espectaculares em Nova Iorque, dos quais falarei mais tarde e com mais tempo, estou ha quase uma semana em Calgary (Estado de Alberta, a 1000 km este de Vancouver), uma cidade com historia e peso economico no Canada mas sem qualquer interesse turistico. Mais exactamente, estou alojado num campus universitario – por razoes que nao interessam aqui aprofundar. Desde posto dos correios, livraria, varios restaurantes comerciais, alem da cantina (que nao recomendo) e inumeros servicos de apoio e entretenimento, tem umas condicoes invejaveis para fazer desporto, com campos de basquetebol, piscina, ginasio de fitness, caiaques para andar no rio, bicicletas de montanha… A somar a tudo isto, esta situado num luxuriante espaco verde onde as residencias universitarias oferecem desde os tradicionais dormitorios onde os estudantes partilham os quartos e os chuveiros aos apartamentos com varios quartos, estudios individuais e ate suites! Imaginem quantos anos os veteranos de Coimbra iriam ficar por aqui… PS: E claro que eu podia esforcar-me e procurar os acentos neste teclado, mas assim fica mais credivel e acrescenta um toque exotico.

sexta-feira, julho 23

NOTAS POLÍTICAS. (Desculpem, mas apetece-me)

1. Na senda dos Verdes, que oportuna e inteligentemente questionaram a legitimidade de Nobre Guedes para ser ministro, Fernando Louçã tentou hoje criar um facto político por ter descoberto que um secretário de Estado veio directamente do mundo privado para o Governo. Mas fez mal. «Já tínhamos um ministro do Grupo Mello, agora temos um secretário de Estado da Associação Nacional de Farmácias». E então? Teremos de ter governantes vindos do desemprego? Têm de ser todos académicos? Ou terão de ser políticos carreiristas que nunca provaram nada no mundo real? Não tem cabimento. O mais engraçado é que até o líder parlamentar do PCP, velho amigo da «democracia» da Coreia do Norte, se lembrou de dizer que o que importa é «a ética política». Como é evidente.

 2. Tenho duas ideias sobre Durão Barroso com que, aparentemente, os nossos opinion makers não concordam. Uma menor, relativa ao nome pessoal; outra mais importante, relacionada com o seu papel no desempenho do novo governo. Sobre o nome, espanta-me que a nossa comunicação social (alguma, pelo menos) se sinta obrigada a aceitar a nova designação que Durão escolheu para si próprio. Que os jornalistas de outros países aceitem o pedido não vejo problema de lesa-majestade – só agora é que irão citar o seu nome, de qualquer forma, por isso não tinham razão para fazer o contrário. Mas em Portugal Durão é Durão. Não é o senhor Barroso. Respeitar a audiência significa facilitar-lhe a informação. Neste caso, significa mandar às ortigas o capricho do Sr. Barroso.
Quanto à sua eleição para a presidência da Comissão acho, como a maioria dos portugueses (para usar a técnica de generalização inventada pela família Soares), que é um orgulho para o País. Mas a sua decisão, quer queiram os seus apoiantes quer não, tem muito mais de concretização pessoal do que de abnegação. Em nome da imagem do país, do projecto europeu, ou do que quer que invoquem. Por isso mesmo, o sucesso ou desvario do Executivo de Santana deve ser assacado, em primeiríssimo lugar, a Durão Barroso. Não esqueçamos: foi ele que nos deu este Governo.

3. José Sócrates não podia ter mais sorte. Não só vai receber a liderança do PS quando o Governo é o que é, como dentro do seu partido todos os habituais roedores de calcanhares resolveram cavar a sua própria sepultura e dar de bandeja os trunfos com que lhe poderiam estragar a carreira nos próximos meses\anos. João Soares e Manuel Alegre, mais os seus habituais compagnons de route, resolveram subir ao púlpito e gritar 25 de Abril Sempre!. «Estive nas batalhas mais complicadas», lembrou Soares Jr., no tom épico com que se imagina a conquistar Constantinopla; «toda a minha vida tem sido um combate desigual», proclamou com idêntica solenidade o poeta Alegre, depois de muitas horas de conversas com o Bloco de Leste remanescente do PS. O debate será clarificador, não há dúvida, mas para os portugueses perceberem o nível de insanidade destes senhores.

 4. Ao lado de Manuel Alegre, na conferência de imprensa, só uma pessoa se sentou: Maria de Belém. Não, não foi por nostalgia pela velha esquerda de punho fechado. Foi simplesmente porque o seu ódio a António Guterres é cego. E como foi Sócrates quem uma vez lhe lembrou, olhos nos olhos, que Belém «não seria ninguém sem o engenheiro Guterres», o ódio ganhou ramificações.

5. A mudança de pasta de Teresa Caeiro não tem muitas interpretações, só tem uma. Vou tentar adivinhar: Portas queria-a na Defesa, mas não tinha o «sim» definitivo de Santana. Num golpe de esperteza saloia – que até é de estranhar – anunciou o seu nome para consumar o facto. Lopes, como qualquer rookie,  não resistiu à tentação de se evidenciar pela lei do mais forte. Perdeu junto da opinião pública, que assistiu à primeira prova do desvario, mas ganhou – sem querer, parece-me – junto de quem menos esperava: Sarmento e Arnaut perceberam que não vale a pena fazer braços de ferro... porque o homem é louco.

quinta-feira, julho 22

MARCELO A DVD JÁ! Tenho assistido a várias discussões sobre as colecções dos Monty Python, do West Wing ou dos Friends. Sei que há uma falange enorme de quem espera ansiosamente pela compilação de Seinfeld em DVD. Mas eu, perdoem-me a insanidade, dou tudo para daqui a uns anos, quando tiver o privilégio de passar um Verão em Portugal, estar a discutir alegremente com outro fanático as gravações dos momentos de maior brilho da TVI. A última intervenção do professor, que só agora ficou disponível na Net, é um deles. A corrosão política em estado puro, genial. Só por isto, pela inspiração que o momento dá a Marcelo, já valeu a pena termos novo governo.
GILBERTO MADAÍL DESPROMOVIDO. Autor do feito: José Romão. O seleccionador da equipa olímpica conseguiu hoje ultrapassar o ilustre presidente da Federação de Futebol na intensa disputa pelo título de representante desportivo mais fajuto no panorama nacional. Apesar de um empate no capítulo Apresentação (ambos escolhem fato Maconde e pêra facial), Romão é quase imbatível no capítulo Discurso. Hoje, na primeira de muitas intervenções públicas com que certamente seremos brindados nas próximas semanas, o seleccionador das esperanças (!) já deu um ar da sua graça. A escolha dos jogadores, disse, «é o reconhecimento da sua categoria enquanto jogadores profissionais e também o reconhecimento de que são atletas de alto nível do futebol português e de valor indesmentível». Mas porquê estes, insistiu o jornalista que entrevistou o respeitável míster. «Têm dentro deles sentido de grande polivalência», iluminou o entrevistado. Para terminar, deixo-vos a frase que traduz as ambições do nosso líder: «O que é sensato é que nós definirmos como primeiro passo qualificarmos, passar o nosso grupo. E depois, numa situação de grande ambição que levamos tentar chegar longe. E tentar chegar longe é que a nossa selecção se apresente sempre com índices de motivação altíssimos, com a consciência que tem uma qualidade proporcional aos outros».

domingo, julho 11

VACANCES Três semanas sem computador, jornais, rádio, TV e internet. Há pessoas que gostam de tirar férias da civilização, mas eu não sou uma delas. Vou estar a roer-me para saber quem estará no governo Santana Lopes, quais as movimentações no PS, as últimas contratações do FCP. Mas alguém que vai pela primeira vez a NY tem direito a queixar-se? Vou tentar mandar um postal de vez em quando. E farei um relatório mais extenso na chegada. À bientôt.

sábado, julho 10

SAMPAIO Às 22h15, Paris parou para ouvir o Presidente. Nem um carro, nem um metrop, nem uma bicicleta. Para quê?
CRISE Por este caminho, Sampaio vai morrer pobre e sozinho.

quinta-feira, julho 8

JUSTIÇA Advogados e magistrados franceses manifestam-se hoje em frente às prisões contra a sobrelotação das prisões, onde existem mais 10.000 detidos do que os lugares previstos. Os penitenciários preparam um abaixo-assinado pela melhoria de condições de trabalho nos tribunais.

quarta-feira, julho 7

MICHAEL MOORE Estreia hoje nas salas de cinema francesas Fahrenheit 9/11, o filme que recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes e é recebido hoje com honras de primeira página no Libération. Colocando de parte a assumida propaganda anti-Bush, para a qual o público já está previamente avisado, o seu mérito é de poder reforçar a tendência que se tem verificado nos últimos anos de documentários com um sucesso comercial significativo em França, como Les Glaneurs et la Glaneuse, de Agnès Varda, Être et avoir, de Nicolas Philibert, "Super Size Me", de Morgan Spurlock, 10e chambre, instants d'audience, de Raymond Depardon. Uma alternativa ao puro - e tantas vezes enfadonho - entertainement dos filmes de ficção.

terça-feira, julho 6

ADEUS, UM ABRAÇO. Era o número dez, jogava com os dois pés, era o nosso Pelé, era o Deco alez, alez...
SOPHIA. Há uns anos, a pretexto de qualquer aniversário ou de um prémio mais, um dos nossos jornais dedicou muitas páginas a Sophia de Mello Breyner. O habitual: análises densas, elogios bonitos, elogios básicos e lugares comuns. Um dos textos, para mim, fez a diferença. Estava assinado por uma leitora do jornal que tinha a minha idade. Na altura, suponho, 18 ou 19 anos. Não decorei o nome. Escreveu ao jornal para dizer que devia o rumo da sua vida a Sophia. Mais precisamente, aos livros infantis de Sophia. Mais precisamente, à Menina do Mar. Fiquei feliz pela coincidência e pensei que podíamos ser muitos mais. Confirmei-o ao longo destes últimos anos. Somos muitos. Depois da Menina do Mar, todos nós passámos a olhar os livros como caixas de novas expectativas. Passámos a procurar traços da nossa própria vida nas páginas, para encontrar soluções ou simplesmente a solidariedade das personagens. Passámos a gostar de passsar o tempo com as palavras. Passámos, em suma, a querer ler e a viver perto dos livros. A Sophia de Mello Breyner devemos isso tudo.

segunda-feira, julho 5

HÉLAS Acima de tudo, estou satisfeito por não ter terminado com cenas tristes, com empurrões ao árbitro, como no Europeu de 2000 e Mundial de 2002. Perdemos, mas com muita dignidade, a jogar bom futebol, com jogadores de idades e talentos diferentes, mas capazes de trabalhar em equipa. E o ambiente, que daqui apenas tive descrições e imagens, terá sido um dos melhores de sempre. Em França, existia desde o início uma simpatia pela selecção portuguesa e li e ouvi várias vezes desejos de que o EURO'2004 acabasse numa final Portugal-França. Depois, quando a França voltou para casa, acho que os jornalistas se deixaram levar pelo entusiasmo que se vivia em Portugal e com a numerosa comunidade lusa daqui. Na emissão de ontem na TV, antes do início do jogo, fizeram directos das ruas de Lisboa e de um café tuga em Paris onde as transmissões dos jogos juntaram dezenas de pessoas. Por azar, não se lembraram de procurar restaurantes gregos.

domingo, julho 4

POLÍTICA & FUTEBOL Luis Felipe Scolari não aceita o convite de Jorge Sampaio para formar governo e a hipótese Pedro Santana Lopes volta a ser considerada. Neste caso, a presidência da Câmara Municipal de Lisboa fica livre. Mas nunca pensei que o Deco se metesse nestas coisas.

sexta-feira, julho 2

NACIONAL-PORREIRISMO. Posso garantir que o erro do realizador da RTP que nos fez perder o golo extraordinário do Maniche é motivo para piadas em muitos países. Perguntava-me ontem um colega inglês se eu sabia o que tinha acontecido ao senhor: «Coitado... aposto que nunca mais volta a pôr os pés na televisão». Ri-me. Só por pensar quão bizarra é, de facto, essa nossa «especificidade» de tudo perdoar. Pior: de fazer de conta que os erros não existem. É inconcebível que não haja uma linha escrita sobre um detalhe curioso que as pessoas ainda hoje comentam. Eu pelo menos fartei-me de procurar e não encontrei nada. E o pior é que não estranho. Já conheço a lógica: «Caaaalma camarada... lembra-te que amanhã podes ser tu a fazer uma asneirada assim». Em suma, como no fundo somos todos medíocres, o melhor é não criticar. Isto não vos irrita?
FOTOS. Para reeditar o boom de visitas, prometemos imagens exclusivas da festa das comunidades portuguesas assim que Durão Barroso chegar a Bruxelas.
EUROCÉPTICOS, NÓS? A situação é inédita. Ontem, no Parlamento, e em termos legislativos, PSD e CDS/PP conheceram a sua primeira brecha. Que é como quem diz: não votaram no mesmo sentido. A divergência levou a que um projecto do PCP fosse aprovado graças à atitude dos populares, que decidiram abster-se, deixando isolada a bancada social-democrata no voto contra. Esta foi a primeira derrota do PSD em votações em plenário desde o início da legislatura. (...) O diploma em causa, cuja viabilização deixou espantados os comunistas, prende-se com os poderes de acompanhamento da Assembleia da República em relação ao processo de construção da União Europeia. (in DN de hoje)

quinta-feira, julho 1

NO CALOR DA FESTA Um leitor pediu uma certa imagem das comemorações aqui em Paris pela passagem da selecção portuguesa à final do EURO2004 e nós não desiludimos.


Aqui está, passou no jornal da tarde da France 2 e garanto que o apresentador foi bastante discreto nos comentários. Quem quiser ver o filme, entre aqui, clique no Journal de 13h (provavelmente o link é efémero) e avance até aos 40 minutos.

SOMOS OS MAIORES A seguir, tanto faz. Podem ser os gregos, para tirar a desforra, ou os checos, porque são os melhores. Lá garganta temos. E que tal aplicar toda esta energia e criatividade no país? É que, que eu saiba, ganhar no futebol não nos coloca no G8. E o EURO2004 arrisca-se a ficar conhecido pelo "campeonato dos pequeninos".
GRITO DE GUERRA NOS CHAMPS ELYSEES Viva Portugal, car****!


Eram aos milhares. Já o tinham sido quando o FCP Porto venceu a Liga dos Campeões e na semana passada, quando Portugal passou às meias-finais. Imagino que em Portugal os comentários se dividam:


"Olha, lá estão outra vez os emigras! Até dançaram folclore". Ou então


"Pôrra, viste os portugueses que ocuparam os Campos Elíseos?!". Mas para quem tem vindo a conviver com esta comunidade nos últimos três anos, vai percebendo que estes momentos


servem para soltar um grito, mostrar que existem. Durante anos viveram em bairros de lata e foram pedreiros, mulheres de limpeza e porteiras. Por isso, foram aprendendo a ser invisíveis.


Os franceses chamam-lhe integração. Mas em cada um destes jovens bate um coração português e muitas vezes mais forte do que naqueles que sempre viveram no país. E nestas alturas mostram o apego às raízes, o orgulho nos seus pais e o desejo de serem ainda mais portugueses.


Por sua vontade, iam a voar até Portugal.


Não, são os quatro mosqueteiros ao serviço do monsenhor Scolari.


Vivam os tugas!

PS: Reportagem fotográfica de André "de Gouveia", excepto fotos 2,6 e 7

segunda-feira, junho 28

SANTANA LOPES Lembrei-me de um texto escrito por Miguel Sousa Tavares há uns meses intitulado "Só nos faltava esta!"
Sugestão de leitura: onde se lê Presidente da República, ler primeiro-ministro.
PORTUGAL POSITIVO O FC Porto ganhou a liga dos campeões, Portugal está nas meias-finais do Campeonato Europeu, Durão Barroso quase na presidência da Comissão Europeia: este ano ganhamos tudo!
DESCULPAS Uma pessoa não pode passar uns dias fora. Assim não dá para fazer um blogue sério. Mas as nossas obrigações para a actualidade são cumpridas noutros locais, por isso tenham paciência.

quarta-feira, junho 23

VOLTA, GABRIEL ALVES A selecção francesa passou aos quartos-de-final do Euro2004, mas sem convencer. Os jornais estão cépticos, na televisão prolongam-se os debates sobre os jogos, a tática e os jogadores. Embora sejam campeões em título e uma das selecções favoritas, os franceses não estão a jogar bem. Até aqui tudo normal, sabemos que o futebol origina discussões intermináveis e não faltam treinadores de bancada, desde antigos jogadores, treinadores, deputados... Mas o que irrita mesmo é quando, ao mesmo tempo que vemos um jogo na TV entre, por exemplo, Itália e Bulgária, uma jogada mal concretizada pode espoletar uma reflexão sobre o desempenho dos Bleus, esquecendo completamente o que se passa no campo.

terça-feira, junho 22

MEMÓRIA FUTURA. Só para que fique registado: até esta noite, Portugal era o país da moda em Inglaterra. Os trogloditas alojados em Albufeira, que merecem mais tempo de antena que o primeiro-ministro, não se cansavam de elogiar os «friendly portuguese friends». O país era fantástico, verde e luminoso, cheio de gente boa e acolhedora. O futebol das nossas estrelas, especialmente depois do jogo contra a Espanha, tinha ainda mais iluminação: um jogo de «globetrotters de bola no chão», dizia hoje o Independent. Era, digo eu, porque a partir de hoje ou muito me engano ou passaremos a ser batoteiros e sortudos, velhos e inexperientes, incompetentes e trauliteiros. O prognóstico vale dinheiro para quem estiver disposto a apostar o contrário.

domingo, junho 20

É SÓ FAZER AS CONTAS Num resumo dos jogos de Portugal e Grécia, o jornalista francês explica que uma destas selecções vai encontrar a França. Precisão: les Bleus ainda não estão nos quartos-de-final.
FÁTIMA 1 - SANTIAGO DE COMPOSTELA 0

sexta-feira, junho 18

TÂNIAS E NÁDIAS. Tânia Nascimento, a primeira representante lusa no Big Brother inglês, era um produto fogoso dos subúrbios londrinos. Apesar de não ter ido muito longe no famoso concurso do abjecto, teve o mérito de conseguir vender o ar brejeirito com que a baptizaram e aparecer em quase todos as revistas semi-pronográficas desta terra. Cheguei a comprar uma «Loaded», bem embaladinha, só para ver o «Fogo português» (em lingerie preta) que a capa anunciava. Desiludiu. Não pelo texto, obviamente, que não li, mas por tudo o resto que se fazia passar por estereótipo nacional. Mentira! Nem um pelo de buço fazia juz às nossas moças; o peito não era farto e naquelas pernas havia muito pouco do nosso fiambre. Em suma, uma fraude.
Mas adiante. Foi-se a Tânia, veio a Nádia. A bela Nádia, também ela portuguesa e muito orgulhosa disso (como não podia deixar de ser), nasceu na Madeira e lá viveu até aos 19 anos, que foi quando se mudou para a Inglaterra. Depois de passar por alguns biscates suspeitos – o típico «Trabalhei numa boutique...» –, conseguiu ser escolhida para a nova edição inglesa do Big Brother. «Um sonho tornado realidade», bolsou a rapariga.
No início do programa, a Nádia era só mais uma labrega no meio dos outros labregos todos. Isto, claro, até se saber que a Nádia, afinal, era o Fernando. Pois é... Daquilo que mostrou ao grande público, portanto, a única coisa verdadeira parecia ser o apelido, Almada (que mesmo assim, convenhamos, é tão adequado que eu apostava ser uma alcunha). Até aqui tudo suportável. A malta é liberal, finge que não se chateia por o único transsexual que passou pela tv inglesa ser um português e agradece a Deus por haver um campeonato de futebol a rotular o país.
O chato é que a Nádia, ou Nando, ou o raio que o parta, resolveu mostrar um bocadinho do nosso temperamento e vai disto meteu-se à trolha dentro da «casa». Estalo para cá, insulto para lá e, imaginem, a Nádia Almada, transsexual da Madeira, ficou com fama de desordeira e ordinária. Ora isto, tratando-se de uma minoria sexual, é, como todos sabemos, ilegal. Num país que se quer civilizado, um homem com tetas é uma vítima da sociedade e tem o direito a exprimir-se como quiser. Por isso dizemos: Força Nádia! A comunidade está contigo.

quarta-feira, junho 16

JAMES JOYCE. Comemora-se hoje, por todo o Reino Unido, o centenário do Bloomsday, o dia em que Joyce lançou Leopold Bloom numa viagem épica por Dublin. Fiquei hoje a saber que o grande Ulisses da literatura também deixou outras heranças para a posteridade. Reparem nas sobrinhas-netas.
PIXIES Confesso que não vou a um concerto em Portugal há dois anos, só me lembro de uma experiência musical num estádio de futebol (nas Antas) e admito que as coisas tenham mudado muito. Mas ontem o Parc des Princes, onde a cabeça de cartaz era Red Hot Chilly Peppers, tive uma imagem do mundo civilizado: casas de banho e enfermaria no centro do relvado, uma plataforma para espectadores deficientes em cadeiras de rodas e respectivos acompanhantes, bares com comida e bebida disponível durante todo o concerto e pais que levam os filhos para verem os seus ídolos - o que é feito do generation gap? De resto, os Pixies foram aquilo que esperava: tocaram as músicas antigas sem falhas nem desvarios, Black Francis não se estendeu em palavras doces para o público e Kim Deal esteve sempre de sorriso nos lábios. E não apresentaram o novo tema, Bam Thwok, lançado em exclusivo pelo portal de música da Apple, mas que já ouvi e gostei. Será que podemos esperar um novo álbum de originais?

terça-feira, junho 15

22 JUNHO. Aguardo com expectativa.
PREÇOS. Provavelmente já viram ou ouviram uma referência a um estudo comparativo sobre o custo de vida em várias cidades do mundo. Londres, a minha amada/odiada Londres, obscenamente cara, está em segundo lugar. Logo a seguir a Tóquio (que enquanto pisar não acredito que existe), a capital brit ganhou um lugar de destaque graças aos cafés e CD's mais caros do mundo (entre muitos, muitos outros indicadores). Vale a pena ver o estudo, sobretudo se for um saloio daqueles que acha que a «minha cidade é que é... Cara para chuchu!» O boda! O prémio, infelizmente, fica comigo.

segunda-feira, junho 14

Duelo a dez passos?

domingo, junho 13

EUROPEIAS Por todo o lado, a abstenção bateu recordes. Mais do que o voto na esquerda, é a falta de interesse e participação que os vários países europeus mostraram ter em comum. Pesaram vários factores: falta de informação sobre a UE, ausência de debate sobre as questões europeias, ressaca dos Santos Populares, tempo bom para ir à praia, unhas encravadas, etc. Mas, mais do que criticarmos esta atitude pouco responsável (mea culpa), será que não é altura de os políticos avançarem para uma flexibilidade nos escrutínios? Porque é que, estando fora da minha zona de residência, não posso votar? Para que é que existem as novas tecnologias? Queremos JÁ o votos pelos computadores, pelos telemóveis e até pelas torradeiras!
EURO2004 Estar fora do país tem esta vantagem: a depressão da derrota não é tão visível. Por mim, continua a ser só futebol. O circo à volta não me interessa.

sábado, junho 12

MOTORES Espero que a pessoa que chegou a este blog em busca de informação sobre a construção de aelerons tenha saído satisfeita. Se precisar de mais alguma coisa, é só apitar. Quanto ao interessado (a) na compra de um T1 no Algarve, informamos que temos uma oferta variada não só no sul como em todo o país. Em breve nesta página, um simulador de crédito, vídeos das casas e promoções irresistíveis de mobiliário.

sexta-feira, junho 11

AIIIIIIIII Quando a vi, simpatizei com ela: loura, jovem, bonita, óculos de armações leves, quase transparentes, sorriso perfeito. Tem uma cara vulgar, mas é bonita. Chama-se Julie e mudou a minha vida. Nunca uma mulher me causou tanta dor. Hoje, pela primeira vez, arranquei um dente e posso finalmente dizer que não é uma experiência agradável. É muito penoso. Ir ao dentista nunca mais será a mesma coisa. Por causa do mau trabalho de um Norberto há cerca de dez anos, tenho hoje menos um molar. E a Julie - não podiam ter arranjado uma besta qualquer que eu pudesse odiar - bem tentou arranjar solução, mas não havia nada a fazer. Poupo os pormenores. Era o destino. Aqui, em Portugal ou noutro lugar. E como é que me sinto depois de tirar um dente em França? Dói, mas ao mesmo tempo estou satisfeito: ninguém me iludiu com alternativas pouco viáveis; não houve consultas de "preparação"; ainda não paguei nada e na farmácia, graças a um cartão electrónico que a segurança social tem chamada Carte Vitale, não tive de desembolsar um tostão para os remédios.

quarta-feira, junho 9

CHOQUE Até no estrangeiro, a notícia da morte de Sousa Franco causa comoção. Soube por telefone e durante muitos minutos foi impossível consultar os sites de informação portugueses. A SIC internacional interrompeu por algum tempo o SIC 10 horas, mas retomou a emissão e a apresentadora Fátima Lopes tentou manter o programa. Missão impossível, o convidado padre Melícias fez um longo discurso sobre Sousa Franco. Na RTP Internacional, o noticiário especial dedicado ao acontecimento foi emitindo repetidamente as imagens de empurrões no mercado de Matosinhos e fica a imagem de Sousa Franco sustentado por membros do PS e um suspiro de alívio de António Costa ao sair da confusão. Impressiona também o tom das variadas reacções, que ultrapassaram as normais declarações de circunstância. E, no fim da campanha, as trocas de insultos que estiveram sempre acima do debate de ideias são completamente abafadas pelas atitudes dignas e manifestações de respeito de todos os adversários.

segunda-feira, junho 7

NAS CERIMÓNIAS DO DESEMBARQUE George W. Bush fez um discurso comovente, mas não chorou. Jacques Chirac confessou-se "muito emocionado", mas sem deixar correr uma lágrima. As palavras de Gerhard Schroeder penetraram nos corações mais rancorosos, mas o chanceler alemão manteve-se sereno. Ainda bem que o nosso Presidente não foi. Acho que não ia aguentar.

NO BANGLADESH.

E O DONALD, ONDE ESTAVA? Ontem, pela primeira vez, a velha Europa comemorou unida o princípio do fim do III Reich.

sábado, junho 5

DIA D...OUTRA VEZ Esta semana soube-se em França que a esperança de vida dos homens (75,9 anos) está a aproximar-se à das mulheres (82,9 anos), não sei se à custa da longevidade masculina ou da mortalidade feminina. Ou seja, os franceses ganharam mais um ano às francesas nas últimas duas décadas, fumando e bebendo menos. Esta é uma boa notícia para aqueles que têm casamentos felizes. Mas outros têm destinos mais amargos. Nos últimos dias, temos sido bombardeados com documentários, reportagens, edições especiais, informação, fotografias e textos sobre o desembarque das tropas aliadas nas praias da Normandia, em 1944, que iriam libertar França e o resto da Europa do jugo dos nazis. E acreditem que é penoso ver os veteranos, de 80 anos para cima, descreverem mais uma vez como se passou, arrastarem-se pelas cerimónias de homenagem e vergarem ao peso dos vinte quilos de medalhas no peito. Resta-lhes a recordação de como aquele dia foi importante para a Europa e o mundo. Porque no próximo ano lá vão estar eles outra vez, a responder às mesmas perguntas, a verem as mesmas imagens, a repetirem as mesmas recordações.

quinta-feira, junho 3

A REGRA tem excepções: um link para o texto barnabeico do Belo.
FEIRA DO LIVRO Por este andar, só daqui a 50 anos é que nos convidam para publicar o blog.
CHEESUS! Isto de entrar no mundo Mac tem que se lhe diga: um gajo fica viciado, passa horas à procura de novidades, a ver preços e a sonhar com um computador que custa o triplo de um PC e que não é tão eficiente nos engates como um Mercedes. Por outro lado, damos lustro às unhas quando ouvimos o vizinho do lado queixar-se de problemas com vírus, avarias nas máquinas e queixas do software. Mas quando elogiamos a inovação que a Apple traz constantemente nunca esperavamos isto. Vai uma mista?

quarta-feira, junho 2

BOA ONDA Quando se tem um irmão mais velho, é normal que se seja influenciado pelos seus gostos e opiniões. No caso do futebol, ainda está por explicar porque abandonei o Benfica paterno para apoiar o FCP do bro - mas a escolha deu frutos. Mas na música, os motivos são mais evidentes: os meus pais nunca foram melómanos e foi ao som de bandas como Bauhaus, Joy Division, Sisters of Mercy, Cult, Pogues, Siouxsie and the Banshees, Cramps e Dead Kennedys e, claro, Xutos e Pontapés, que fui crescendo. A maior recordação é a das cassetes Basf cor-de-laranja compradas no café da rampa para gravar o Som da Frente do António Sérgio no nosso gravador de deck único mas com duas antenas! Muitos quilómetros de fita leu aquele gravador. Perdoem este momento de nostalgia, mas é impossível não fazê-lo quando escuto o disco dos Nouvelle Vague, um projecto de Marc Collin e Olivier Libaux, que põe ritmos pop e bossa nova a temas como "Love will tear us apart", dos Joy Division, "This is not a love song", dos PIL, "Marian", dos Sisters of Mercy ou "Too drunk to fuck", dos Dead Kennedys. Os ritmos são diferentes, as vozes femininas adocicaram as letras mais rudes e depressivas, o espírito não é o mesmo, mas as músicas ainda mexem. E para os mais novos ou aqueles para quem nada disto faz sentido, oiçam a versão que as Cibo Matto fizeram de "About a girl", dos Nirvana. O efeito deve ser o mesmo.

terça-feira, junho 1

O FUTEBOL E O ESTRUME NACIONAL. Depois de um dia inteiro a falar de José Mourinho, a ITV dá uma reportagem de 45 minutos sobre a final da Liga dos Campeões. E lá aparecem outra vez as bandeiras do FCP e de Portugal; as imagens das entrevistas feitas no Porto, com o meu saudoso molhe por trás; os depoimentos dos jogadores, em razoável português; os elogios desbragados aos pequenos Davides da Europa, etc, etc, etc Na concorrência, quase ao mesmo tempo, começa um «especial» sobre o Euro 2004. Lisboa, os estádios, o mar, até os Açores (não me perguntem... talvez pela relva)!
Quem disse que o futebol não é uma forma de promover o País - e se pensarem bem vão lembrar-se de muita gente que vomitou essa alarvidade - devia pensar seriamente em passear-se na rua com um cartaz ao peito e um chapéu de cone. As provas são estas. Graças ao futebol, Portugal é muito simplesmente o País mais falado em Inglaterra e, suponho, em muitos outros países civilizados.
Para um país atulhado de estrume político e judiciário até ao pescoço, convenhamos que não é nada mau.

segunda-feira, maio 31

VERÃO ESTRANGEIRADO. «Fizz limão» e «Sumol de Ananás». As primeiras opiniões dos nossos leitores sobre a mudança de template, que aqui aproveito para agradecer, reflectem o espírito da equipa da casa. Atento às novas tendências, a Estrangeirados S.A. decidiu, de facto, investir numa imagem inovadora. Aos nossos criativos pedimos uma imagem fresca, arejada, saltitante, verdejante e bem disposta. Qualquer coisa, portanto, próxima dos atributos de um penso higiénico, mas com uma capacidade de absorção intelectual. E assim, de Londres e Paris para todo o mundo lusófono, eis que surge a colecção Estrangeirado Summer/2004. Esperemos que goste.
ESPANTO Em França há um movimento político presente nas eleições francesas que defende a implementação do esperanto como lingua única na UE, acreditando que isso pode favorecer a democracia e a participação de todos os cidadãos europeus. Perante o sério perigo desta candidatura e de a ideia alastrar, aconselham-se os candidatos portugueses a procurarem aqui vocabulário apropriado para continuarem as respectivas campanhas.
PEQUENAS DIVERGÊNCIAS Prefiro sumol de maracujá e não gosto de Caetano.
LONDON, LONDON. E agora, para comemorar o restyling, Caetano.

I'm wandering round and round nowhere to go
I'm lonely London, London is lovely so
I cross the streets without fear, everybody keeps the way clear,
I know, I know no one here to say hello
I know they keep the way clear, I am lonely in London without fear
I'm wandering round and round here
Nowhere to go

While my eyes, go looking for flying saucers in the sky
While my eyes, go looking for flying saucers in the sky

On sunday, monday, autumn pass by me and people hurry on so peacefully
A group approaches a policeman, he seems so pleased to please them
It's good as least to live in peace and I agree
He seems so pleased at least and it's so good to live in peace and
On sunday, monday, years and I agree

While my eyes, go looking for flying saucers in the sky
While my eyes, go looking for flying saucers in the sky

I choose no face to look at choose no place,
I just happen to be here, and It's Ok

Green grass, blue eyes, grey sky, god bless, silent pain and happiness
I came around to say, yes and I say
Green grass, blues eyes, grey sky, god bless, silent pain and happiness
I came around to say yes and I say

While my eyes, go looking for flying saucers in the sky
While my eyes, go looking for flying saucers in the sky


Caetano Veloso
London London

domingo, maio 30

FACE-LIFTING O Peter Pan já desvendou o nosso patrocinador.
EUROPEIAS Por aqui, a campanha pelas eleições tem sido discreta, com excepção da presença cada vez mais notada de Lionel Jospin, o ex-primeiro-ministro socialista que há dois anos fez birra quando perdeu para Jean-Marie Le Pen na primeira volta das eleições presidenciais e anunciou o abandono da vida política. O desejo de Jospin voltar a intervir é notório - os Guignols, a contra-informação francesa mas numa versão muito melhor, fizeram umas piadas óptimas com isso - e na sexta-feira foi estrela num comício em Toulouse, onde criticou o governo de direita. Mas sempre que lhe perguntam, nega sempre e veementemente um regresso à política. Quem é que ele me faz lembrar?

PS: A propósito, a esquerda vai à frente nas sondagens.

SUMMER II. Com o Verão chegam os casamentos. De Maio a Setembro, de fraque ou fato cinzento, nas «quintas» ou nos restaurantes «Casa de...», a pé ou sentado, ou - variação mais recente - na Igreja ou no Registo Civil. Todos os anos a mesma coisa, mas todos os anos com mais frequência. É assustador. Casar deve ser das festas mais fashion que se pode montar. Qualquer twenty-something sente que casar é condição para ser filho de Deus. Ouço as mentes mais liberais e revolucionárias culparem a futura mulher por terem de subir ao altar quando, na verdade, estão a rejubilar por dar concretização a um sonho infantil.
Ao contrário do que normalmente me acusam - e do que estas palavras podem dar a entender - não tenho nada contra o casamento. À excepção da música, do pai da noiva bêbedo, dos amigos do «outro lado» e dos bares abertos com VAT 69 até me divirto razoavelmente nas ditas bodas. E tendo em conta que hoje em dia existe aquela coisa chamada «divórcio» já nem sequer me sinto impelido a dizer a alguém «vê lá o que é que vais fazer». Antes prefiro dizer: «Vê lá se tens coragem de proibir a Daniela Mercury, a Fafá de Belém, a Gloria Gaynor, o Frank Sinatra, os paneleiros do YMCA e afins mariconadas». E o Whiskey levo comigo.
SUMMER (OU UM POST BREJEIRITO). Com o Verão chega o sol, a cerveja e os decotes. Certo? Errado! Há nove meses em Londres continuo à espera de ver o raiar da luz natural por mais de trinta minutos. Compensação: há cerveja e decotes o ano todo.

sexta-feira, maio 28

«A MIRACLE CALLED PORTO». Há duas semanas tive a ingrata função de ir para a porta dos snacks portugueses locais perguntar a um grupo de emigrantes-protótipos se a vitória do clube deles - o mesmo do seleccionador nacional - tinha uma importância especial pelo facto de viverem no estrangeiro. Para o clube em questão, como imaginam, qualquer vitória tem um sabor especial e provoca grunhidos de júbilo. Mas agora que penso na pergunta com seriedade, à escala dos Campeões Europeus, percebo como de facto o futebol é importante para as comunidades emigradas. Comprar os jornais locais e ler elogios ao clube, ao treinador, aos jogadores, à nossa cidade e até ao País faz-nos sentir bem. Ver imagens com centenas de adeptos na Alameda do Dragão transmitidas pelas televisões inglesas dá orgulho. Acham que é parolo? Eu sinto que é chique a valer.

quinta-feira, maio 27

DESONESTIDADE INTELECTUAL Há expressões muito irritantes. Normalmente, são um recurso para a falta de vocabulário e de argumentação.
TERCEIRO MUNDO As imagens da equipa do FC Porto a passar no meio de milhares de pessoas fazem lembrar o Brasil. Mas, não sei porquê, este carnaval entristece-me.

quarta-feira, maio 26

DIAS ÚTEIS Um dos programas que a SIC Internacional faz o gentileza de transmitir para os demais estrangeirados é O dia seguinte, um momento alto de discussão filosófica e intelectual de individualidades como Fernando Seara, Santana Lopes e Guilherme Aguiar, onde o tema do futebol tem uma certa preponderância. É apaixonante ver e ouvir a paixão e a minúcia com que analisam cada jogada, declaração ou notícia, fazendo do seu exercício mental um desporto mais esforçado que o dos próprios atletas. E é especialmente recompensador saber que programa tem do público da SIC Notícias uma atenção merecida que o faz o mais visto do canal e da TV Cabo.
ALVES DOS REIS Isaltino de Morais diz que Amílcar Theias, o ministro que alegadamente foi despedido por telemóvel, era "uma espécie de extraterrestre no Ministério do Ambiente".. Terá Isaltino moralidade para fazer grandes considerações sobre o seu sucessor?
ESTRANHO Uma mulher a dançar dentro do metro, em frente ao seu reflexo na porta. Um cão a passear num carrinho de bébé, empurrado pela respectiva dona. Bush e Chirac concordam sobre o futuro do Iraque.

segunda-feira, maio 24

ACTUALIZAR Os (poucos) leitores terão reparado na ausência de novidades desde quinta-feira, os mais atentos estarão admirados com a quebra da promessa deste lisboeta-parisiense portista de escrever todos os dias. Mas outros assuntos têm-me preenchido o tempo e a disponibilidade. Entretanto, o sol foi-se, veio, esteve frio, agora volta o calor. O tecto do mais recente terminal do aeroporto Charles-de-Gaulle caiu ontem, matando seis, depois cinco e finalmente quatro mortos, no mesmo dia em que ficámos a saber que Santana Lopes tem TV no automóvel pessoal. E hoje, voilà, eis que a Myriam Delay, a mãe que violou quatro das suas crianças e que na semana passada tinha ilibado 13 dos 17 acusados, volta atrás pela enésima vez, e recupera a história de uma criança que alegadamente foi morta mas cujo cadáver nunca foi encontrado. No mesmo dia em que Carlos Queirós voltou a ser despedido após mais uma época sem glória. Na quarta-feira temos o Portugal-Mónaco! Desculpem, FC Porto-Mónaco.

quinta-feira, maio 20

SOL EM PARIS Mais um dia de calor. Hoje é feriado da Ascenção e por ser quinta-feira permite uma ponte para o fim-de-semana prolongado - aqui também é tradição. Paris é uma cidade óptima para se andar a pé: não tem muitas subidas e tem uma arquitectura harmoniosa. Nestes dias especialmente, passear a pé pelas ruas torna-se agradável porque há menos trânsito e menos movimento. As pessoas, ao contrário do normal, tomam o seu tempo. Andam ao acaso e param uma esplanada que lhes pareça interessante. Foi o que fiz. Outras fazem tudo para recarregar as baterias solares. Nas margens do rio ou num relvado pequeno como na Place des Vosges, o sol é rei.

quarta-feira, maio 19

PEDOFILIA Em França, no chamado caso Outreau, a Justiça está debaixo de fogo. 17 pessoas foram constituídas arguidas, após as acusações de crianças e alguns dos suspeitos mas, ao fim de duas semanas, sabe-se que 13 deles estarão inocentes. Foram quatro anos de investigação e de instrução, algums dos suspeitos continuam presos e da fama já não se livram, além da angústia, sofrimento e vergonha que passaram. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.
EURO No meio do seleccionados, conto pelo menos três que acusaram positivo no controlo anti-dopping.
BALANCÉ. No decurso deste meu desaparecimento forçado, mas bem gozado, passei os olhos e as mãos por alguns blogues meus amigos e por outros tantos de amigos meus. Para ser rigoroso, aconteceu uma vez só, há mais ou menos três semanas, mas foi suficiente. Senti-me um daqueles personagens do Hitchcok achados numa vila subitamente despovoada. Grande parte dos meus messias tinham perdido a salutar rotina e fidelidade. Despareceram ou, pior ainda, desinteressaram-se. Lamentei.
Agora que regressei à vida com mais tempo para intervalos - espero - reparo que a crise está em fase de convalescença. Muito por culpa de um fenómeno que parece ter o efeito de um Prozac: as mudanças de Template.
Desde o meu próprio blogue [mudança à revelia de uma das partes, registe-se], aos muito apreciados Homem a Dias; Terras do Nunca; Bomba Inteligente; Babugem; e mais alguns que a hora não me permite recordar. Todos para melhor. Única nota negativa: o desaparecimento aparente d'A Ponte.
PS: Perdi o ritmo. Estou a escrever demais. Enfim, desculpem. Ou como diria o arroto que se julga educado, «com licença».
JE SUIS BACK. Caros companheiros de geração: para celebrar este meu regresso activo à blogolândia brindo-vos com uma das lyrics mais bonitas da nossa infância. Exactamente, daquelas de arrancar lágrimas à calçada. Senhoras e senhores: Era uma vez no Espaço. Maestro...

Lá em cima há planícies sem fim
Há estrelas que parecem correr
Há o Sol e o dia a nascer
E nós aqui sem parar numa Terra a girar

Lá em cima há um céu de cetim
Há cometas, há planetas sem fim
Galileu teve um sonho assim
Há uma nave no espaço a subir passo a passo

Lá em cima pode ser o futuro
Alegria, vamos saltar o Mundo
E a rir, unidos num abraço
Vamos contar uma história
Era uma vez o Espaço

Lá em cima já não há sentinelas
Sinfonia toda feita de estrelas
Uma casa sem portas nem janelas
É estenderes o braço e tu estás no Espaço!

segunda-feira, maio 17

SABES AQUELE DITADO: MAIS VALE CALADO QUE MAL ACOMPANHADO Quando as coisas pareciam correr bem e o Partido Socialista francês parecia ter encontrado um tema onde são visíveis as diferenças com a direita, vem o ex-primeiro-ministro Lionel Jospin, que tem estado calado - e bem - lançar achas para a fogueira e declarou-se contra o casamento entre homossexuais.
MOURINHO O FCP perdeu a Taça de Portugal justamente e o treinador ataca o árbitro. É o que dá ter um José com nome de mouro.
TRISTE TELENOVELA O presidente do conselho de governo privisório do Iraque foi morto a pouco mais de um mês da passagem do testemunho. E agora?
PORTAGENS O ministro da Cultura francês, Renaud Donnedieu de Vabres, elegeu como prioridade combater a pirataria de filmes e música pela Internet (link efémero) e convida autores e fornecedores de acesso à Internet (FAI) a entrarem em acordo. Diz-se que um milhão circulam ilegalmente na Internet em França por dia. Merda. Espero que isto não implique um retrocesso na civilização. É que aqui, ao contrário de Portugal, raramente impõem limites aos downloads. Era a mesma coisa que passar a ter a Brisa nas auto-estradas da informação...

domingo, maio 16

O SR. RUI RIO. A equipa do Arsenal comemorou esta manhã a conquista da Premier League no topo de um autocarro descapotável. Quase duzentas mil pessoas espalhadas pelas ruas de Islington, no Norte de Londres, gritaram e cantaram com os jogadores. O cortejo acabou, como seria de esperar, com os jogadores a serem recebidos na Town Hall, de onde se fizeram os discursos da praxe. Duas horas depois, as televisões continuavam a mostrar imagens de um povo feliz, orgulhoso do seu clube e da sua cidade.
Há poucos dias, vi as mesmas imagens de Valência. Ponho a mão no fogo, como haverá as mesmas imagens em toda a Europa, de todas as cidades que tiveram a felicidade de ver «o clube da terra» vencer o respectivo campeonato nacional. É natural. E também seria natural para os cidadãos do Porto viver a mesma festa se a sua cidade [a minha cidade] não tivesse um presidente de câmara que, nesta e noutras matérias, se acha o mais clarividente de toda a Europa.
Depois de ver as imagens da festa do Arsenal apeteceu-me vir aqui lembrar que este homem instrumentaliza o futebol como todos os outros políticos. A única diferença é que se notabilizou no nosso bizarro rectângulo por o fazer no sentido inverso do que é habitual. Ou seja, em vez de se colar ao mundo da bola, posicionando-se ao lado das barbichas e dos bigodes que tantas náuseas nos dão, dá a entender que esse é um mundo de corrupção onde ele, incorruptível que é por decreto, não se mistura. Não sei, nem quero saber, qual dos jogos acaba por render mais votos. O que sei é que este senhor fabricou uma divisão que não havia e estragou a festa a muitos portuenses. E por isso, só por isso, raios o partam.

sábado, maio 15

SÁBADO DE MANHÃ. Acabo de saber pelo Sindicato de Jornalistas que os jornalistas noruegueses estão em greve e o Luxemburgo tem uma nova Lei de Imprensa. Um grande bem haja aos camaradas desses países, tantas vezes por nós ignorados sem razão.

quinta-feira, maio 13

TAXISTAS No mundo civilizado - pelo menos deste lado da Mancha - não são mais educados nem menos oportunistas. Hoje quase estive a ser deixado na praça porque o taxista viu um outro senhor com malas mas que, azar o dele, não ia para o aeroporto. Como é que um bem escasso pode ser uma praga?
IRAQUE Já se disse muito sobre as torturas dos soldados da coligação sobre os presos iraquianos e os adjectivos faltam para condenar o que se vê. Mas, pessoalmente, o que me admira é a eficácia e a criatividade com que os soldados registaram tudo. Não duvido que Saddam Hussein e outros ditadores (de esquerda ou de direita) em várias partes do mundo tenham no seu cadastro abusos equivalentes ou piores. Mas onde é que estão as fotografias? Ou porque é que não existem em tanta quantidade, pormenor e crueldade? Este é mais um reflexo de como a tese da "invasão libertadora" moldou as mentes dos soldados norte-americanos e britânicos que se pensam julgam superiores aos comuns mortais. Para eles, aqueles prisioneiros não são gente, são objectos. São vencidos. São muçulmanos.

OS CHATOS A nova campanha da Fundação Portuguesa de Cardiologia põe um médico a mandar passear os jornalistas que o esperavam à porta do hospital. Não sei se vai funcionar, mas é mais um retrato do país hiper-mediático e, mais triste, da profissão de jornalista.

terça-feira, maio 11

ANTÓNIO CHAMPALIMAUD morreu, foi velado e enterrado. E ninguém fez o trocadilho "Portugal ficou mais pobre"? Onde é que estão os criativos d'A Bola e da PJ quando precisamos deles?

segunda-feira, maio 10

TRANSPORTES PÚBLICOS Depois de um relatório oficial ter demonstrado, mais uma vez, que a poluição atmosférica urbana é responsável por mortes e pelo agravamento de doenças cardio-respitarórias, o debate sobre o (ab)uso das viaturas nas cidades devia voltar. Porque, se hoje se fala em consequências mal avaliadas para o ambiente e para a economia, estamos agora perante um caso de saúde pública. E o princípio do poluidor-pagador, ao exemplo do fumador-pagador, ser levado a sério. Aqui, por enquanto, o assunto acalmou. Isto apesar de o Le Point dizer que o governo tentou impedir a divulgação do estudo para poupar a poderosa indústria automóvel francesa (Peugeot, Renault, Citroen).

domingo, maio 9

EUROPEIAS Os socialistas franceses apelam ao voto útil porque a extrema-esquerda, apesar de não fazer sombra, rouba alguns votos. O PS de Portugal, pelo contrário, parece que tem mais a ganhar do que a perder com o Bloco de Esquerda. Até Mário Soares disse há dias, aqui em Paris, que o PS está demasiado ajuizado para o seu gosto.
AINDA O GODINHO Para que fique registado, o artista é um bom artista. Não sou um admirador desde a primeira hora, nem um calejado ouvinte. Não sei as letras de cor nem identifico ao primeiro acorde os temas, os álbums e as épocas. Só desde há dois anos é que venho ouvindo com regularidade. Mas na sexta-feira percebeu-se o mérito do SG: as músicas foram quase todas apresentadas com novos arranjos, e assim surgiram envernizadas, enfeitadas, redecoradas e coloridas. Para os mais conservadores, talvez não tenha sido um bom concerto. Mas para dúzia e meia de tugas que desafiaram os bares exíguos da Bastilha e encontraram um lugar comum onde beber um copo, a noite foi de comemoração.

sexta-feira, maio 7

DEUSINHO Por incrível que pareça, hoje vou ver um concerto do Sérgio Godinho. Sim, com milhões de coisas interessantes nas salas de teatro, cinema, concertos, óperas e afins, mesmo assim, vou ao concerto de um artista português. Não são só as pressões sociais e familiares. E não é de todo nostalgia, a tal saudade de que se fala tanto no estrangeiro. É mesmo por gosto. E vai ser no mesmo palco onde vi Jonathan Richman há um mês atrás.

quinta-feira, maio 6

BOLSA OU A VIDA Com o novo Código, a expressão "Vai roubar para a estrada" ganha outra dimensão.

quarta-feira, maio 5

SUMO É apaixonante a luta silenciosa entre Sarkozy e Chirac. Sarkozy tem qualquer coisa de Paulo Portas, mas seria exagerado comparar Chirac a Soares.

terça-feira, maio 4

PROMESSA III Se o FCP passar à final, digo tudo o que sei sobre a corrupção no futebol português.
PROMESSA II Se o FCP passar à final, mudamos a cor do blogue.
PROMESSA Se o FCP passar à final, prometo que venho actualizar o blogue todos os dias.

sexta-feira, abril 30

CRÉDITOS II Por outro lado, é justo que as lojas e cabeleireiros que arranjaram os apresentadores portugueses sejam identificadas no final do noticiário. Nesse aspecto, os franceses ainda têm muito a aprender.
CRÉDITOS Uma coisa que se repara aqui na TV francesa, antes de cada reportagem original mostrada nos telejornais, os nomes dos jornalistas são referidos. E, no final, surgem novamente os créditos dos autores, dos operadores de câmara e dos responsáveis pela montagem. Certamente uma vitória conquistada após uma greve ou uma negociação laboral. Sim, também é para isto que servem os sindicatos...
LA CHANSON PORTUGAISE A Agence France Presse diz que Carlos do Carmo é considerado "o Jacques Brel" português. Ora aí está uma boa notícia. Para o Jacques Brel, claro.

quarta-feira, abril 28

LONDRES De acordo com o boletim meteorológico, o rio Tamisa deverá acalmar nos próximos dias, depois de alguns dias de borrasca. A navegação será retomada logo que possível. Abram alas.

25 DE ABRIL, AINDA Ando às voltas com as comemorações dos portugueses de França. Com tanta coisa, fui perdendo o fio à meada do que se tem passado em Portugal, mas acho que o que se fez aqui não envergonha: conferências com Mário Soares, Manuel Alegre, Vitor Alves, Vasco Lourenço, Otelo, Fernando Rosas, Eduardo Lourenço, Pacheco Pereira e outros, colóquios académicos, exposições várias, projecção de documentários, concertos - que culminam na próxima semana com Sérgio Godinho. O aniversário redondo foi celebrado em Paris e no resto do país e lembrado pontualmente pelos franceses. Uma coisa é certa: as massas não se mobilizaram. Tal como em Portugal, suponho. É pena. Quando ouvimos falar alguns destes protagonistas, até desejamos ter vivido tudo aquilo. Já eles, acredito, prefeririam ser filhos de Abril.

domingo, abril 25

BIBÓ O BINTE CINCO DE ABRIL, carago!

sexta-feira, abril 23

CASTING Ainda não me habituei à troca de pastas no governo francês. Durante dois anos vimos Nicolas Sarkozy, conhecido popularmente por "Sarko", o flic n° 1, o durão, implacável com os imigrantes ilegais e os criminosos. Agora está a tratar das Finanças. Outra troca que ainda não convence é Dominique de Villepin, que herdou o ministério de Interior de Sarkozy. Face visível da oposição francesa aos EUA na questão do Iraque, o elegante ministro dos Negócios Estrangeiros era então uma personificação do estilo francês, verboso, delicado e justo - e utópico. O perfil de polícia firme não lhe fica bem, não sei. É como pensar em Paulo Portas para ministro do Desporto, Figueiredo Lopes no ministério da Saúde ou Durão Barroso como primeiro-ministro. Pois.

quinta-feira, abril 22

DÚVIDA Um blogue pode ser fonte de notícia, ou deve ser fonte para notícia?
O CLONE? Não sei se sabem, mas o serviço de televisão por cabo em Paris tem incluido no pacote básico a RTP Internacional. Pessoalmente, sempre pensei que apenas interessasse aos milhares de portugueses que aqui vivem, mas nos últimos dias tenho reparado em comportamentos estranhos de Nicolas Sarkozy, ex-ministro do Interior e novo ministro das Finanças francês. Primeiro, fala em vender ouro para obter receitas extraordinárias e combater o défice público. Depois, determinou um congelamento de sete mil milhões de euros de créditos previstos para este ano. E agora estalou uma pequena guerra com a ministra da Defesa por causa do orçamento militar. Sarkozy até já disse "nem mais um euro". Só faltava o sotaque.
ESCÂNDALO São conhecidos os tiques de linguagem do ex-presidente do Sporting Sousa Cintra e os atropelos gramaticais dos dirigentes e jogadores de futebol, mas acabei de ver transcrito "não hesiste nada" numa daquelas notas de rodapé durante uma entrevista a Sousa Cintra no Bom Dia Portugal, na RTP!

domingo, abril 18

DECO. Deeeeecooo.... Deeecooo....

terça-feira, abril 13

ECO eecoooo... ecoooo... ecoo... eco... eco..

segunda-feira, abril 12

COMME D'HABITUDE Várias rádios francesas juntaram-se e celebram hoje o 35° aniversário do tema My Way cantado por Frank Sinatra, que celebrizou pelo mundo inteiro uma melodia original de Claude François, cantada em dezenas de linguas e reproduzida por mais de mil vozes mais ou menos famosas. Outros desenvolvimentos e curiosidades aqui. Ah, parece que os dois nunca se encontraram.

Je me lève
Et je te bouscule
Tu n'te réveilles pas
Comme d'habitude

Sur toi
Je remonte le drap
J'ai peur que tu aies froid
Comme d'habitude

Ma main
Caresse tes cheveux
Presque malgré moi
Comme d'habitude

Mais toi
Tu me tournes le dos
Comme d'habitude

Alors
Je m'habille très vite
Je sors de la chambre
Comme d'habitude

Tout seul
Je bois mon café
Je suis en retard
Comme d'habitude

Sans bruit
Je quitte la maison
Tout est gris dehors
Comme d'habitude

J'ai froid
Je relève mon col
Comme d'habitude

Refrão

Comme d'habitude
Toute la journée
Je vais jouer
A faire semblant
Comme d'habitude
Je vais sourire
Comme d'habitude
Je vais même rire
Comme d'habitude
Enfin je vais vivre
Comme d'habitude

Et puis
Le jour s'en ira
Moi je reviendrai
Comme d'habitude

Toi
Tu seras sortie
Pas encore rentrée
Comme d'habitude

Tout seul
J'irai me coucher
Dans ce grand lit froid
Comme d'habitude

Mes larmes
Je les cacherai
Comme d'habitude

Refrão

Mais comme d'habitude
Même la nuit
Je vais jouer
A faire semblant
Comme d'habitude
Tu rentreras
Comme d'habitude
Je t'attendrai
Comme d'habitude
Tu me souriras
Comme d'habitude

Comme d'habitude
Tu te déshabilleras
Oui comme d'habitude
Tu te coucheras
Oui comme d'habitude
On s'embrassera
Comme d'habitude
Comme d'habitude
On fera semblant
Comme d'habitude
On fera l'amour
Oui comme d'habitude
On fera semblant
Comme d'habitude

Música: Claude François & Jacques Revaux Letra: Claude François & Gilles Thibault

GRANDE GALO Fiel de uma corrente tradicionalista, um cristão francês de uma pequena localidade na Bretanha, no norte do país, apanhou com um sino de cerca de 40 quilos em cheio na cabeça quando ia a sair da igreja, onde tinha acabado de ouvir a missa da Páscoa celebrada em Latim. É por estas e por outras que há cada vez menos praticantes e cada vez mais extremistas.
ADIVINHA O que é que a Páscoa e as eleições/referendos têm em comum? O Algarve enche.

quarta-feira, abril 7

CAROS LEITORES. Para que não restem dúvidas, não estamos de férias, não arranjamos um tacho, não fomos promovidos, nem temos uma tese de pós-doutoramento para acabar. Na verdade, não temos qualquer desculpa de jeito. Preguiça. Física e mental.

quarta-feira, março 31

O ACONTECIMENTO É com profunda e sentida emoção que assisto de longe à inauguração das novas instalações da RTP. Um novo mundo vem aí. Espero reconhecer Lisboa quando aterrar amanhã na Portela.

terça-feira, março 30

GOOGLEMANIA. Citar as palavras chave que são introduzidas num motor de busca e que trazem os leitores até nós é um hábito corriqueiro na blogosfera ao qual, se a memória não me atraiçoa, nunca nos dedicámos. Pois bem, inauguro a rubrica com um motivo de vergonha e outro de orgulho. A vergonha: «suspresa». Alguém soletrou mal a palavra e, suspresa das suspresas, acabou por nos encontrar assim. É caso para dizer que nós, como o Outro, também escrevemos direito por linhas tortas. Agora, o orgulho: «blog, emigrante portuga». Não é bonito? Allez, allez estrangeirados, estamos no caminho da fame!

segunda-feira, março 29

IRRESPONSABILIDADE A METRO "30 ocorrências mensais é um número irrisório" - Eng.º Carlos Alberto Mineiro Aires, presidente do Metropolitano de Lisboa ao jornal Público, 25/03/2004, a propósito dos acidentes com as portas de acesso aos cais. Não questiono o sistema que o ML aplicou em Lisboa, até porque ele existe noutras capitais europeias - inclusivé em Paris. O que me indigna é ver um administrador, ainda por cima de uma empresa pública, considerar "um número dispiciendo" 20 a 30 acidentes mensais para um universo de meio milhão de clientes/ dia. É pena o voto universal não chegar às empresas públicas.
WINDS OF CHANGE A esquerda ganhou as regiões todas em França. Todas? Não!

Plantu no Le Monde

segunda-feira, março 22

FRENTE NACIONAL Mais uma vez, as eleições em França não deixam dúvida de que a extrema-direita tem um eleitorado fiel e que é a terceira força política do momento. Mais uma vez.

quinta-feira, março 18

OPTIMISMO Reparo que os dois últimos posts foram sobre encerramentos. Ora, para contrariar este ambiente de terror e pessimismo, seria encorajador dizer que nem tudo é mau e está a fechar. Por exemplo, aqui em França abriu... o período para pagar os impostos.
MÁS NOTÍCIAS A Lusomundo resolveu fechar as salas de cinema do Mundial. Não era um frequentador assíduo, mas o Mundial ainda era um dos sítios para onde a Lusomundo deixava escapar uns filmes interessantes do seu semi-monopólio de Hollywood, como, por exemplo, o Memento. E foi onde vi pela primeira vez em grande écrã o Citizen Kane. As condições não eram fantásticas - ir à casa-de-banho era arriscar uma intoxicação de naftalina, tal a quantidade de bolas que colocavam nos mictórios, e os momentos mais interessantes eram frequentemente estragados pelo mastigar das pipocas e o sorver de coca-cola -, mas era mais uma alternativa no centro de Lisboa e no andar de baixo deixava sempre uns exemplares do DN gratuitos. Espero que alguém consiga recuperar aquelas salas. Só quem está habituado ao cinema em centros comerciais é que não percebe o potencial daquilo!

quarta-feira, março 17

FIM. A Politico's fechou as portas. É verdade, é duro e não há nada que nos faça minorar a perda. Estava ali em Westiminster, meia escondida, pouco pretensiosa, pequena mas cheia daqueles doces que não se fabricam na nossa terra. «Soft covers, hard topics», disse-me um dia o rapaz bem treinado do balcão, resumindo pacientemente as exigências que lhe punha. Para nós, os dilectos fãs, não era uma livraria. Era um alfarrabista de novidades. O melhor spot para os voyeurs de estantes trocarem sorrisos cúmplices com gente do mesmo sangue. Política hard core. Não havia misturas. Ainda nos resta o site, é verdade, mas onde é impossível descansar os olhos nas canecas de café roubadas às eleições americanas, nas t-shirts dos partidos ingleses, nos cartazes... Enfim. Mais uma colher de prata penhorada.
LONDRES PÓS 11-M (2)

terça-feira, março 16

PRIMAVERA Na civilização é assim: basta um bocadinho de calor para fazer soar os alarmes da poluição atmosférica. Por mim, o sol é bem-vindo. Nos dias de maior frio até sonhei com o aquecimento global.

ADIOS, AMIGOS* Tem piada como a eleição de um socialista serve os interesses da direita francesa tanto em relação ao Iraque como nas questões europeias, onde o novo primeiro-ministro espanhol pode desbloquear o impasse na Constituição Europeia. Paris e Berlim precisam de aliados fortes, pois com Londres é difícil de contar. Por isso, eu até percebo que tenham sido expeditos os cumprimentos ao vitorioso e as manifestações de vontade em cooperar. Mas chocou-me que, no momento em que a direita europeia registou a primeira grande derrota depois da era da luta contra o terrorismo, tenham sido escassas ou inexistentes as palavras de solidariedade a favor de um dos seus modelos, em especial do primeiro-ministro, Jean-Pierre Raffarin. Apenas Jacques Chirac telefonou a José-Maria Aznar para lhe assegurar a sua amizade. Mas nós e Alain Juppé sabemos o que isso pode custar.

*Nome do útimo álbum dos Ramones

OLÁ. Duas semanitas arredado desta casa e - quando começava a pensar que já não me fazia falta - arrebato-me de amores e saudades. Destes dias longe (dos quais ainda não estou totalmente livre) várias vezes me mordi por não poder vir aqui pensar alto. Como não poderei recuperar o tempo perdido, limito-me agora a compensar a ausência de discurso sobre os episódios de Espanha, recomendando vivamente as palavras do André. Subscrevo linha por linha. A mentira, na política, não se tolera. E Aznar, como Bush e Blair, mentiu deliberadamente. E como Bush e Blair, mentiu sobre políticas de sangue, de guerra, de atentados. Não escondeu uma amante debaixo da secretária, nem fingiu que pagou impostos atrasados. Fez o abominável. Manipulou o que não pode ser manipulado: o sofrimento da morte. Só por isso (esperneiem o que quiserem os meus queridos amigos que me querem convencer de uma ingenuidade que não existe), merece cair na desgraça.
LONDRES PÓS 11-M.

sexta-feira, março 12

AS PISTAS APONTAM PARA O MESMO

Gallego & Rey no El Mundo

quinta-feira, março 11

DE ROMA A MADRID Não sei se já chegou a Portugal, mas recentemente vi um filme italiano, Buongiorno, Notte, sobre o sequestro e execução pelas Brigadas Vermelhas do líder da Democracia Cristã, Aldo Moro. E, embora seja um cenário fantasista, adaptado do livro de um dos membros, Anna Laura Braghetti, o filme de Marco Bellochio dá uma imagem de como a luta por uma causa (independentemente da sua legitimidade) pode degenerar. Damos por nós a abanar a cabeça e a interrogar se os responsáveis ainda pensam que valeu a pena.

ATENTADO Quando liguei a televisão no principal canal de notícias francês hoje de manhã, estavam dois mecos a discutir a orientação escolar. Finalmente já puseram uns especialistas a comentar as imagens e as consequências políticas e um enviado especial a fazer o relato. Os directos aqui para estas bandas são escassos

quinta-feira, março 4

OS DESEJADOS Em França, é Lionel Jospin, em Portugal é António Guterres. Dois antigos primeiros-ministros socialistas, auto-exilados da política, começam progressivamente a dar a cara para ajudar os respectivos partidos nas eleições mais próximas (regionais em França, europeias em Portugal). Vou adorar ver os palcos de campanha cheios de fumo e eles a aparecerem, montados em cavalos brancos, queixo levantado e luzes nos olhos, ao som de uma música heróica...

terça-feira, março 2

QUEREM MATAR A TRADIÇAO Para repôr a actualidade e passar a informação ao espectador, Mel Gibson já encontrou distribuidor (link efémero) para La passion du Christ, Tarak Ben Ammar, que anunciou a estréia para a Páscoa. Eu pergunto: e o Quo Vadis?.

O PROGRAMA Só para que fique registado, em França também temos um António Guterres. Ou é em Portugal que existe um Lionel Jospin? É um assunto que vamos aprofundar nos próximos dias. Na forja há ainda um texto sobre os transportes públicos, a pedido especial. E não perca a rubrica de culinária à quarta-feira, a crónica de puericultura à quinta e a agenda de espectáculos na sexta-feira.
ALÔ? Já estou no ar?

segunda-feira, março 1

EM TRANSITO. Poiso novo, problemas novos. Entre outras coisas, foi-se a Internet. Para me corresponder com Paris, durante os proximos dias, terei de me deslocar a um desses cafes mixurucas, onde cada hora ligado ao mundo custa a modica quantia de seis euros. E ainda para mais, dao-me computadores analfabetos. Assim como este, sem acentos nem cedilhas. Perdoe-me, caro leitor, o embaraco. Prometo adoptar o modelo mexiano: daqui a uma semana posto quinze prosas. Ate la, segue a emissao francesa. Abracos (com cedilha) e beijinhos (acentuados).

domingo, fevereiro 29

SOBRE A INUTILIDADE. Fiquei agora a saber, por um título do Expresso, que o nosso Presidente da República está «contra a Sida». Quero aqui declarar, perante esta revelação surpreendente e corajosa, que também eu sou contra a Sida. Para a semana, num exclusivo bombástico, o Expresso poderá revelar que o PR está «contra a pobreza». Começarei a pensar no assunto desde já.
O MEU HERÓI MOURINHO. O principal articulista de desporto do Daily Telegraph dedicou ontem uma prosa inteira ao desempenho do melhor treinador português da História. Dizia o senhor Pinter que Joé Mourinho tinha adoptado uma estratégia muito «arriscada». Não no campo, onde até he concedia alguns méritos (poucos), mas no discurso. Pinter acha que Mourinho foi pouco audaz ao responder às críticas de Alex Ferguson, sobretudo quando insinuou que os seus atletas não se empenham o suficiente e que ele próprio, como técnico do clube mais rico do mundo, não sabe gastar o dinheiro das contratações. Isto foi muito arriscado, na perspectiva do ilustre brit, porque só servirá para espicaçar treinador, jogadores e adeptos do Manchester United quando o Porto vier jogar a Inglaterra. Para chegar a esta interpretação (bastante partilhada por estas terras) é preciso partir do pressuposto que Mourinho está encolhido no orgulho de uma vitória acidental e conseguida a custo de muita sorte. E que agora espera que o Manchester seja outra vez «apanhado de surpresa», mas no seu campo. Muito pelo contrário, digo eu, o que Mourinho está a fazer é a lutar pelo jogo justo. A esforçar-se para que os seus rivais na eliminatória não sejam apanhados de surpresa. «Fiquem alertados, meus senhores, que nós somos uma equipa tão boa ou melhor que a vossa», dirá ele. E os outros, se quiserem, que acreditem. Esperemos que não. Esperemos que, como os portugueses, fiquem a rir e a pensar que tudo não passa de arrogância naif. Seria bom sinal.

sexta-feira, fevereiro 27

JÁ TEMOS PROBLEMAS SUFICIENTES COM ISRAEL Em França, ainda não existe distribuidor para o filme de Mel Gibson, "The passion of the Christ".


Mike Lester no Rome news Tribune (EUA)

quarta-feira, fevereiro 25

FCP 2 - MAN U - 1 "O Estádio do Dragão hoje é o purgatório para os Diabos Vermelhos" - relato na RDP.
METAM-SE NA VOSSA VIDA. Disse-me o pai de um amigo, um dia, num encontro ocasional que serviu para conselhos de vida, que «o melhor a fazer» - assim, lato sensu - é definir um objectivo de longo prazo e ir cumprindo as suas partes. Para dar sustento às palavras, citou o proverbial Séneca Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir. Acreditei. E ainda hoje, quiçá por força de uma costela conservadora, acredito que vivem melhor os que sabem aquilo que procuram. O pior, aprendi depois, é o caminho que levamos para cumprir as partes. Aqui, a bem do bem-estar, convém ser mais liberal. Não podemos correr o risco da indecisão - mudando constantemente ou constantemente adiando a mudança -, nem tão pouco o da negação - ignorando o que nos faz ignorantes. Pensando assim, creio (espero, anseio), mudamos na hora certa. E fazemo-lo num minuto. Por mais que custe. Aos outros, claro.
«Então e aquele projecto de vida?»
«Mudou».
«Desististe?»
«Não, troquei»
Escusado será dizer que mudei, troquei um caminho. E que uma parte do cérebro resolveu passar isto a escrito para sossegar a outra. Agora vou deitá-las juntas e esperar que a reconciliação na cama tenha o efeito que se conhece. Até amanhã.

terça-feira, fevereiro 24

GACA E FARCO Aqui o camarada está maravilhado com a "fraternidade emigrante", onde "Porto" e "Lisboa" convivem alegremente na mesma rua. Quando cá vieres dou-te peixe frito para aprenderes. E cá em casa bebe-se Sagres preta.
PORTUGAL NO CORACHOM Vi apenas uns minutos da emissão de aniversário do "Portugal no Coração" gravada aqui em Paris, mas pairava um tom paternalista, de "viémos festejar com o coitado do emigrante que está tão longe da sua terra que tanto ama e anseia". Mas desta vez foram generosos. Em vez do habitual chouricinho, mandaram presuntos e um salpicão.
HIPOCRISIA. A todos aqueles que, como eu, acham que o senhor Gilligan foi condenado publicamente por um crime que pura e simplesmente não existe - no jornalismo, pelo menos -, recomendo vivamente a leitura deste artigo. O texto e as adendas. É tudo genial.

segunda-feira, fevereiro 23

FACA E GARFO. Aqui se define a fronteira entre as duas capitais de quem vos escreve, caro leitor. Enquanto ele, com soberba gastronómica, desdenha as riquezas da terra natal; eu, degredado no Tarrafal do guardanapo, quase salivo de pensar no que ele escorraça. Mas curioso foi o sentido de oportunidade. Precisamente quando acabo de conhecer o «Lisboa», supermercado, justamente à frente do «Porto», snack-bar. Ali em Nothing Hill, onde nunca imaginei. Comecei pelo Norte, como sempre, para o cafézinho e o pastel de nata. «Espere, não tenho aqui nada. Tenho de ir levantar»; «Deixe lá isso homem! Não vai deixar de comer porque não tem dinheiro». E de repente estou rendido e integrado na fraternidade emigrante. Depois enchi os sacos. Depois de abastecer a carteira, claro, que a Sul não há fiado. Um Casa de Santar reserva razoável, quatro latas de feijão preto, um chouriço bem apessoado, caldo verde congelado e quatro bocks já geladas. Paguei com gosto. Em libras, mas com gosto.
Tu foste encontrar o chévre e o confit de canard, dizes. Eu deixei-os em casa e vim atrás dos «Lisboas». Para já, vão-me divertindo.