quinta-feira, maio 12

BLAIR. Esta manhã, na primeira conferência de imprensa depois de ser re-eleito, Tony Blair começou por fazer um discurso onde apresentou a sua prioridade para o arranque deste terceiro mandato: a disciplina social.
Dito assim parece uma heresia fascista, mas na verdade não é. A grande preocupação dos ingleses é o crescimento da pequena criminalidade, do vandalismo, dos ataques com armas branas e do alcoolismo entre as camadas mais jovens.
Para controlar isto, o governo baixou as orelhas aos gritos da oposição e decidiu criar um novo pacote de medidas que dará mais poderes à polícia para controlar (averiguar, revistar, deter...) quem esteja na base destas expressões maiores do trogloditismo.
Gostei muito deste discurso e só não o achei perfeito porque reparei que o primeiro-ministro utilizou a expressão "Estado Providência" duas vezes na sua mensagem. Como Blair não é conhecido por lapsus linguae, imagino que este retorno à nomenclatura falhada do socialismo dos anos 80 - muito pouco relacionado com o saudável New Labour - será um indício de novas aventuras. Aventuras retrógrodas, porque não passam de cedências às alas críticas do partido que o querem fora da liderança e do governo rapidamente.
Por outro lado, pode ser o sinal que a discussão ideológica vai regressar à liça. Bem vinda seja.

segunda-feira, maio 9

APOSTAS & SONDAGENS. Hoje, na capa do Times, para ilustrar a manchete sobre a “Guerra civil nas fileiras Trabalhistas”, vem publicada uma caixa com os valores das apostas sobre a continuidade de Tony Blair no Governo.
É apenas mais um exemplo de como as apostas são um dos melhores indicadores da opinião pública britânica.
A casa citada, a Ladbrokes, uma das principais do país, atribui 10-1 à possibilidade de o primeiro-ministro se demitir esta semana, 16-1 se for este mês e 4-1 se for no espaço de um ano (para os desentendidos: o valor do lado direito corresponde ao dinheiro apostado; o da esquerda é o que a casa paga em retorno, caso o apostador acerte).
Sem extrapolar muito, podemos concluir que estes dados mostram que a saída de Blair é um dado adquirido para os ingleses (se não vemos a hipótese “não sai do governo” é porque ninguém pagou por ela), e que ao contrário do que a imprensa tem vendido, ninguém acredita que a decisão seja conhecida antes do final do ano.
Está feita a notícia para um jornalista, está dado o motivo para uma histeria descontrolada para um investigador social. Ninguém mais que esta espécie se irrita com estas interpretações. Às apostas, dizem, faltam critérios imparciais, amostras equilibradas, métodos científicos... e - pecado dos pecados – independência de uma motivação monetária.
Para jornalistas, no entanto, é todo o contrário. Exactamente por haver dinheiro envolvido, ninguém neste tipo de inquérito se atreve a “votar” no cavalo errado, nem se perde com as vergonhas e esperanças que, tipicamente, são os elementos que mais distorcem os resultados das sondagens. Desta forma, a aposta permite antecipar o voto útil como nenhum outro instrumento.
Na Irlanda do Norte, outro exemplo precioso, é raro haver sondagens, suponho que pelo preço ser incomportável para os jornais e por não haver muitos centros de investigação. Mesmo assim, há cerca de duas semanas, todos os jornais adivinharam que David Trimble, o unionista Nobel da Paz, perderia as eleições. Porquê? Porque as casas de apostas revelaram, para surpresa de todos, que ninguém do seu círculo apostava nele.

quarta-feira, abril 20

BARROSOSTEIN Já vem atrasado, mas para aqueles que não tenham reparado, o Libération dedicou um retrato de última página ao nosso papa de Bruxelas. O título quer dizer qualquer coisa como "orelhas sujas", ou seja, surdo às ordens da Europa humanista e social.

quarta-feira, março 23

A PRIMEIRA VITÓRIA Durão Barroso conseguiu o impossível: a unanimidade da extrema-esquerda, comunistas, socialistas, Verdes, centristas, liberais, conservadores, soberanistas e extrema-direita em França contra ele. Ninguém quer a directiva Bolkenstein nem o dumping social e o alvo a abater é o presidente da Comissão Europeia. Nesta questão, todos apoiam Jacques Chirac. Não é bonito, um país unido?

quarta-feira, março 9

LA MANIF Vi hoje a na RTP algo sobre o facto de em Portugal haver cada vez menos manifestações e achei irónico. É que França deve ser precisamente o país onde existem mais protestos organizados. Poucos são os dias em que não há uma manifestação, seja em lembrança da jornalista raptada no Iraque, em defesa dos serviços públicos, a favor de eleições democráticas no Togo ou contra a ionização dos alimentos. Por exemplo, só nesta semana tivémos na terça-feira os estudantes na rua, na quarta foi a vez dos investigadores e na quinta-feira espera-se uma grande mobilização dos trabalhadores em geral para exigir melhores salários e mais emprego. É mais um retrato do mundo civilizado.

segunda-feira, março 7

DURINHO Conta o L'Express que, recentemente em Bruxelas, Jacques Chirac se virou para José Manuel Barroso, o presidente da Comissão Europeia, e lhe disse "vigorosamente": "É preciso que os segures, os teus gajos!" Não se conhece a resposta de Durão. Mas pode-se imaginar uma.

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INDEPENDENTES José Sócrates escolheu, e bem, vários independentes para o novo governo - e poucas mulheres, diga-se. Mas esse modelo foi recentemente revisto em França. Jean-Pierre Raffarin (centro-direita) também chegou a recrutar, logo a seguir às eleições em Maio de 2002, alguns ministros na "sociedade civil": Luc Ferry (Educação), Francis Mer (Economia), Jean-François Mattei (Saúde) ou Jean-Jacques Aillagon (Cultura). Hoje nenhum destes continua em funções. As condições eram as mesmas: maioria absoluta, necessidade de reformas, desejo de credibilizar a política. Mas os ministros não resistiram às pressões ou escândalos: Luc Ferry, um filósofo reconhecido, cedo demonstrou soluções pouco consensuais e hoje é um crítico deste governo. Francis Mer vinha do meio empresarial e para lá voltou sem deixar obra. Mattei, especialista em genética, caiu logo a seguir à crise da canícula, incapaz de explicar a ineficácia dos serviços em se aperceber dos efeitos mortais do calor no Verão de 2003. Aillagon passou da presidência do Centro Pompidou para o governo mas também não resistiu, desgastado pelas manifestações dos intermitentes. Na remodelação que fez em Março de 2004, logo a seguir à grande derrota nas eleições regionais, Raffarin justificou ter colocado elementos com mais experiência de política para os cargos importantes com a necessidade de saber negociar e defender as novas leis. Veremos se Sócrates não será obrigado a rever a sua equipa, não por falta de capacidade das pessoas, mas por uma questão de estabilidade dentro do governo. É que um primeiro-ministro não pode passar a vida a apagar fogos e não estou a ver Sócrates no papel de bombeiro.
BRAVO! A medalha de ouro de Naíde Gomes abriu os telejornais portugueses. Como dizia aqui a minha comentadora preferida, "até que enfim não é nem política nem o Papa". E eu acrescento: nem futebol!
ESTADO DE CHOQUE Até agora ouvi e li poucas reacções interessantes ao novo governo. A maioria ainda está chocada com a escolha de Freitas do Amaral (também eu). Percebi que o ministro do Ambiente é bastante consensual, que nas Finanças está alguém que é respeitado pelos principais economistas portugueses (e que deve ter aprendido rapidamente que no Governo não se pode pensar em voz alta) e que, dos socialistas, António Costa (o Rasputine do PS) e Luís Amado (gosta de fazer bricolage) são considerados competentes. De Mariano Gago há pouco a dizer, a não ser bem. A proximidade da ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues a Gago e o seu interesse pelas tecnologias trazem também bons augúrios. Quanto aos restantes, os comentários são magros e prudentes. Por mim, Sócrates teve o mérito de ter conseguido surpreender o país - pelo melhor e pelo pior - e de ter trazido várias caras novas para a política, o que fazia falta.

quarta-feira, março 2

NOVO MAU PRESSÁGIO PARA OS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS Uma última hipótese seria a tarde de sexta-feira, mas há quem não esconda a sua superstição, invocando o mau presságio que o dia 11 poderia representar para o novo Executivo. Sábado parece, assim, ser a data mais provável (...)
BLACKOUT ATÉ QUANDO? José Sócrates tem o direito de querer constituir uma equipa em paz e sem quaisquer pressões partidárias ou mediáticas, mas já é altura de se saber quando e como é que o futuro primeiro-ministro pretende anunciar o novo governo. Não vamos deixar para o último dia, ao estilo da apresentação das equipas de futebol, a entrarem no estádio, ministro a ministro, sob os holofotes, e a darem uns toques de bola antes de assinarem o livro.

segunda-feira, fevereiro 28

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QUE SAUDADES DO MAIO DE 68 Com a entrada de Thierry Breton (direita) para o governo francês, onde já estava Jean-Louis Borloo, entra oficialmente na moda o estilo "despenteado e óculos na ponta do nariz".

Em Portugal, o corte mais popular na política é aquele um bocadinho comprido atrás, estilo futebolista. O chamado "corte à foda-se".

domingo, fevereiro 27

NO CAFÉ Perguntei no sábado a um amigo israelita de Tel Aviv: "- Não ficas preocupado quando há atentados? Não telefonas à família e amigos para saber se estão todos bem?" Resposta: "- Sabes, basta saber onde foi o atentado para perceber se poderia conhecer alguém. Os meus amigos não frequentam a zona do passeio marítimo."

sexta-feira, fevereiro 25

INEVITÁVEL O ministro das Finanças francês demitiu-se. Afinal há vergonha na cara e os políticos não são apenas sancionados nas eleições. A democracia agradece.
HERVÉ GAMAR

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Ou muito me engano, ou o ministro das Finanças francês não vai durar muito mais. O problema não está no escândalo que foi saber-se que tinha alugado um apartamento por 14.000 euros mensais à custa do Estado. As regras do "alojamento de função" não eram suficientemente claras e cada um faz a interpretação que lhe convém. A questão é a transparência - ou melhor, a falta dela - com que o assunto foi gerido. Nos últimos dias Hervé Gaymard quis aparecer como uma vítima que, por ser filho de sapateiro, não teria meios para ter casa própria digna de receber a mulher e os oito filhos e que estava a ser alvo de perseguição. Mas a imprensa já revelou que o ministro tem afinal um apartamento de 200 m2 em Paris (e que está arrendado abaixo do preço do mercado) e mais propriedades no resto do país, o que fez dele um dos contribuintes para o famoso "Imposto sobre a fortuna"em 2003.

Pela boca morre o peixe. Dizem os especialistas da comunicação que, nestes casos, o melhor é dizer logo tudo de uma vez e não deixar a coisa transformar-se numa novela. Mas foi o que aconteceu. O requisitório final vai ser feito hoje, no telejornal da TF1, e dele depende a sua permanência no governo. A postos devem estar já os institutos de sondagens para saber se o povo acreditou ou não. Não seria mais democrático e republicano que isto fosse esclarecido no Parlamento? Não, talvez porque tanto a direita como a esquerda têm telhados de vidro.

quinta-feira, fevereiro 24

NEVE Eu sei: é idiota, é infantil, é provinciano. Mas nevou ontem em Paris como nunca tinha nevado nos três Invernos que cá passei e não resisti a tirar umas fotografias.

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quarta-feira, fevereiro 23

IRONIAS Por imbirrância politiqueira, o PS recusou-se nestas eleições a colaborar numa experiência de voto electrónico realizada com os portugueses residentes no estrangeiro. A diferença em relação ao teste que foi feito em Portugal é que este era feito nos computadores pessoais, através de um código pessoal e da Internet. Sem querer voltar aos argumentos débeis usados em tempo de campanha eleitoral para rejeitar o conceito - proposto por um organismo público -, importa reter a urgência de desenvolver este sistema rapidamente. Seria uma contribuição para aumentar a fraca participação em zonas remotas e a centenas de km dos consulados e aceleraria em duas semanas a publicação dos resultados e a entrada em funções do novo governo, hoje refém de um voto por correspondência arcaico e pouco eficaz. E seria um sinal de que a tecnologia é realmente um pilar de desenvolvimento do país e não apenas um pregão de feira.

terça-feira, fevereiro 22

BRASSNECK Hoje vou falar-vos de uma das vantagens de viver numa cidade do mundo civilizado e ela chama-se Wedding Present. Por influência do "big brother", ouço estes gajos há mais de 15 anos e vi-os ao vivo em 1996 no Festival de Reading. Agora, depois de cinco anos de ausência, o cabecilha David Gedge recrutou novos músicos e lançou a 14 de Fevereiro um novo álbum, "Take Fountain". Onde é que está vantagem de Paris nisto? É que os Weddoes iniciaram uma digressão pelo Reino Unido, Alemanha, Suíça, Holanda, Noruega e Paris está no caminho. É a 16 de Março e os bilhetes já cá cantam.

segunda-feira, fevereiro 21

ONDA ROSA Primeiro Espanha, depois Portugal. Segue-se provavelmente França na lista dos países onde a esquerda deverá retomar o poder, dentro de dois anos. Há quem diga que a alternância é um dos pilares da democracia. Mas é também uma constatação da incapacidade de satisfação dos eleitores. E o povo é soberano.

domingo, fevereiro 20

IMPRESSOES Muito do que se passa em Portugal, infelizmente, vejo através dos jornais e televisões e talvez por isso seja mais crítico com os media portugueses. Por exemplo, fiquei abismado quando a SIC, que me tem dado as imagens mais críticas e saborosas dos comícios e da campanha eleitoral, mostrou o video completo de Durão Barroso a apelar ao voto no PSD. Ou seja, tempo de antena em pleno Jornal da Noite, quando a notícia era a intervenção - discutível - de um dirigente europeu. Hoje, o mesmo Durão Barroso apareceu na RTP a falar em inglês depois de votar... Presunçoso? Ou será que foi porque ele foi votar mais cedo (para viajar ao encontro de Tony Blair, versão oficial), os repórteres portugueses não estavam e as imagens foram cedidas por uma televisão estrangeira? Custava explicar? Nas reportagens sobre o voto dos políticos portugueses, apreciei ver que Francisco Louçã guarda a carteira no bolso de trás das calças (um pormenor, apenas isso) e que Mário Soares se conformou a aguardar a sua vez de votar atrás de muitas pessoas, em sinal de respeito pelos seus concidadãos.