quarta-feira, dezembro 3
PASOLINI Ontem fui ver Comizi d'amore, um documentário de 1965 do Pier Paolo Pasolini. É fácil resumir: de norte a sul, de microfone em punho, foi perguntando a miúdos e graúdos, homens e mulheres, operários e intelectuais, o que pensam da sexualidade, do casamento, do divórcio. As respostas são cómicas, próprias de uma sociedade fechada e religiosa. Episódios: um miúdo garante que é a cegonha que traz os bébés e é Deus que os põe no cesto ao lado da mãe - porque a cegonha não tem mãos. Um agricultor que acha que a mulher deve ter menos direitos que o homem "não é preciso muito, só um bocadinho, não muito, só um bocadinho". A jovem que se atira ao realizador e depois diz que é tímida. O adolescente sardento que diz resolutamente que a família é a base da sociedade e que o sexo não lhe interessa, que é secundário. E um Pasolini provocador com questões sobre os "invertidos sexuais", sendo ele próprio homossexual. No final, temos um breve retrato da Itália dos anos 60, onde também intervêm Alberto Moravia e Oriana Fallaci. Irreconhecível hoje, annus Berlusconnis, em que a televisão explica tudo, tintin por tintin. Faltou uma questão: o aborto.
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