sexta-feira, dezembro 19

ABORTO II. Volto ao assunto só para fazer um esclarecimento ao André, que está em total desacordo com o meu post anterior sobre o tema. Primeiro, em relação à despenalização da IVG merecer ou não o apoio da maior parte dos portugueses: é um facto que o referendo nos respondeu que não. E sem estudos de opinião recentes sobre o assunto, é impossível aferir objectivamente qual seria a resposta neste momento. Por isso, especulemos: eu entendo que o facto de ter havido uma diferença entre o resultado oficial e aquilo as sondagens vinham anunciando explica-se com a abstenção. Se a memória não me atraiçoa (posso confirmar mais tarde) votaram 31 por cento dos eleitores e houve mais ou menos cinquenta mil votos de diferença. Ou seja, a abstenção teve, necessariamente, um papel importante a distorcer o resultado. É claro que se pode sempre alegar que podia ter penalizado os dois lados, mas também disso discordo. Primeiro porque os eleitores «sim» estavam confiantes na vitória; segundo porque os eleitores «não» estavam mais mobilizados e melhor convencidos da importância e da utilidade do seu voto.
E aqui chegamos à segunda crítica: as posições assumidas à esquerda e à direita. Desonestidade, desinformação e demagogia atribuis tu à direita. Concordo plenamente. Como dizia outro dia julgo que a Helena Matos, quando se mostram bonecos tipo Barriguitas para falar de fetos está tudo dito sobre a seriedade da discussão. Mas a verdade é que foram eles que ganharam a batalha. E agora, quer queiramos quer não, o ónus está do lado da esquerda.
Propor iniciativas com a chancela do Bloco de Esquerda ou da Juventude Socialista pode mostrar muita convicção e coerência por parte dos próprios mas não demonstra qualquer tipo de responsabilidade. Porque responsabilidade, em política, também é realismo. E não é realista assumir que as vozes de direita que desencadearam isto se iam pôr atrás das bandeiras do BE ou da JS. Incoerência deles? Talvez. Mas quem põe a causa à frente dos interesses partidários pensaria numa forma melhor de juntar essas vozes à sua luta. Não lhes atirava à cara a exigência de afrontarem o seu próprio partido.
O que conseguiram com isto, volto a dizer, foi acordar os «cães de guarda», remeter ao silêncio quem melhor lhes poderia ter servido e adiar novamente a questão.

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