quarta-feira, dezembro 17

ABORTO. O Daniel elogia o texto sobre o aborto que o deputado Gonçalo Capitão, do PSD, publicou n’A Capital. E elogia bem. É um exemplo notável de como se podem afastar preferências partidárias para discutir opções pessoais tão sensíveis. Diz que é um texto «lúcido e honesto», apesar de ter alguns «ataques gratuitos à esquerda». E aqui engana-se. Os ataques que GC fez à esquerda têm toda a razão de ser. A esquerda não consegue ser inteligente quando fala de aborto. Pura e simplesmente, não consegue. Prefere o histerismo. E com isso só prejudica a causa que diz querer defender, como é óbvio.
As recentes declarações de membros do PSD e do CDS, surpreendentemente flexíveis, vêm provar esta triste realidade. «A maioria de direita deu sinais de abertura? Estão lixados! Vamos já fazer uma conferência de imprensa a pedir para os gajos serem coerentes e amanhã já se estão todos a desdizer... Lindo!»
Meu dito, meu feito. Vejo na televisão o Miguel Portas a falar para três jornalistas numa sala vazia e penso: pronto, é o suficiente. Já lixaram esta merda outra vez! Mas porque é que não se calam? Não perceberam ainda que é bastante mais produtivo do que andar a acirrar constantemente o outro lado? Apresentar propostas que à partida toda a gente já sabe que vão ser recusadas ajuda alguma coisa? «Apanhar» os gajos a desdizer-se tem mais importância do que contar com a ajuda de um soldado no outro lado da trincheira? Não é óbvio que a partir do momento que pedem «coerência» à maioria, eles são obrigados a responder «coerentemente contra» o Bloco?
A vocês, esquerdistas empenhados que dizem não conseguir conter a «paixão e a irritação» quando falam no assunto, algumas palavras apaixonadas e irritadas: é vossa a culpa de tudo ficar na mesma.
Não acreditam? Já pensaram porque é que andam a lutar tão arduamente por uma coisa que a maior parte dos portugueses quer? Porque vocês falharam. E continuam a falhar.

Sem comentários: