quinta-feira, fevereiro 5

DEMOCRACIA E ALARVIDADE. Um grupo de activistas contra a guerra foi assisitir ao debate sobre o caso Hutton, no Parlamento, para poder gritar a meio da sessão quando o primeiro-ministro falasse aos deputados. A iniciativa não podia ter corrido melhor (do ponto de vista deles, claro). Assim que Tony Blair começou a falar no assunto, as alminhas indignadas lá encheram os pulmões e destaram a cuspir impropérios das galerias. Seguiu-se a costumeira pausa e respectiva evacuação dos trogloditas. Do alto da minha sabedoria latino-eurpeia, não estranhei nada. Nem podia, como é óbvio. O que realmente me surpreendeu foi o semi-escândalo que surgiu depois. Durante todo o dia, os telejornais abriram com os ditos activistas aos berros no Parlamento. Nos estúdios, todos os comentadores condenavam o acto com o vocabulário apropriado à anormalidade da situação.
Gostei de registar várias coisas no acontecimento: primeiro, a surpresa que causou. Um bom sintoma que a javardice, por estas paragens, não é rotineira. Segundo, o facto de todos os deputados se esforçaram por ignorar o tumulto. Não fosse a palhaçada estar bem organizada e, ao que me pareceu, os trabalhos tinham continuado como se nada fosse. Terceiro, as reacções. Ou melhor, a falta delas. Não vi nem o presidente da Câmara dos Comuns a responder na mesma moeda, isto é, aos gritos; nem nenhum deputado a defender os animais com argumentos idiotas de liberdade de expressão. É a vantagem de a educação não ser património ideológico. E de não se confundir democracia com alarvidade.

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