domingo, fevereiro 29

SOBRE A INUTILIDADE. Fiquei agora a saber, por um título do Expresso, que o nosso Presidente da República está «contra a Sida». Quero aqui declarar, perante esta revelação surpreendente e corajosa, que também eu sou contra a Sida. Para a semana, num exclusivo bombástico, o Expresso poderá revelar que o PR está «contra a pobreza». Começarei a pensar no assunto desde já.
O MEU HERÓI MOURINHO. O principal articulista de desporto do Daily Telegraph dedicou ontem uma prosa inteira ao desempenho do melhor treinador português da História. Dizia o senhor Pinter que Joé Mourinho tinha adoptado uma estratégia muito «arriscada». Não no campo, onde até he concedia alguns méritos (poucos), mas no discurso. Pinter acha que Mourinho foi pouco audaz ao responder às críticas de Alex Ferguson, sobretudo quando insinuou que os seus atletas não se empenham o suficiente e que ele próprio, como técnico do clube mais rico do mundo, não sabe gastar o dinheiro das contratações. Isto foi muito arriscado, na perspectiva do ilustre brit, porque só servirá para espicaçar treinador, jogadores e adeptos do Manchester United quando o Porto vier jogar a Inglaterra. Para chegar a esta interpretação (bastante partilhada por estas terras) é preciso partir do pressuposto que Mourinho está encolhido no orgulho de uma vitória acidental e conseguida a custo de muita sorte. E que agora espera que o Manchester seja outra vez «apanhado de surpresa», mas no seu campo. Muito pelo contrário, digo eu, o que Mourinho está a fazer é a lutar pelo jogo justo. A esforçar-se para que os seus rivais na eliminatória não sejam apanhados de surpresa. «Fiquem alertados, meus senhores, que nós somos uma equipa tão boa ou melhor que a vossa», dirá ele. E os outros, se quiserem, que acreditem. Esperemos que não. Esperemos que, como os portugueses, fiquem a rir e a pensar que tudo não passa de arrogância naif. Seria bom sinal.

sexta-feira, fevereiro 27

JÁ TEMOS PROBLEMAS SUFICIENTES COM ISRAEL Em França, ainda não existe distribuidor para o filme de Mel Gibson, "The passion of the Christ".


Mike Lester no Rome news Tribune (EUA)

quarta-feira, fevereiro 25

FCP 2 - MAN U - 1 "O Estádio do Dragão hoje é o purgatório para os Diabos Vermelhos" - relato na RDP.
METAM-SE NA VOSSA VIDA. Disse-me o pai de um amigo, um dia, num encontro ocasional que serviu para conselhos de vida, que «o melhor a fazer» - assim, lato sensu - é definir um objectivo de longo prazo e ir cumprindo as suas partes. Para dar sustento às palavras, citou o proverbial Séneca Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir. Acreditei. E ainda hoje, quiçá por força de uma costela conservadora, acredito que vivem melhor os que sabem aquilo que procuram. O pior, aprendi depois, é o caminho que levamos para cumprir as partes. Aqui, a bem do bem-estar, convém ser mais liberal. Não podemos correr o risco da indecisão - mudando constantemente ou constantemente adiando a mudança -, nem tão pouco o da negação - ignorando o que nos faz ignorantes. Pensando assim, creio (espero, anseio), mudamos na hora certa. E fazemo-lo num minuto. Por mais que custe. Aos outros, claro.
«Então e aquele projecto de vida?»
«Mudou».
«Desististe?»
«Não, troquei»
Escusado será dizer que mudei, troquei um caminho. E que uma parte do cérebro resolveu passar isto a escrito para sossegar a outra. Agora vou deitá-las juntas e esperar que a reconciliação na cama tenha o efeito que se conhece. Até amanhã.

terça-feira, fevereiro 24

GACA E FARCO Aqui o camarada está maravilhado com a "fraternidade emigrante", onde "Porto" e "Lisboa" convivem alegremente na mesma rua. Quando cá vieres dou-te peixe frito para aprenderes. E cá em casa bebe-se Sagres preta.
PORTUGAL NO CORACHOM Vi apenas uns minutos da emissão de aniversário do "Portugal no Coração" gravada aqui em Paris, mas pairava um tom paternalista, de "viémos festejar com o coitado do emigrante que está tão longe da sua terra que tanto ama e anseia". Mas desta vez foram generosos. Em vez do habitual chouricinho, mandaram presuntos e um salpicão.
HIPOCRISIA. A todos aqueles que, como eu, acham que o senhor Gilligan foi condenado publicamente por um crime que pura e simplesmente não existe - no jornalismo, pelo menos -, recomendo vivamente a leitura deste artigo. O texto e as adendas. É tudo genial.

segunda-feira, fevereiro 23

FACA E GARFO. Aqui se define a fronteira entre as duas capitais de quem vos escreve, caro leitor. Enquanto ele, com soberba gastronómica, desdenha as riquezas da terra natal; eu, degredado no Tarrafal do guardanapo, quase salivo de pensar no que ele escorraça. Mas curioso foi o sentido de oportunidade. Precisamente quando acabo de conhecer o «Lisboa», supermercado, justamente à frente do «Porto», snack-bar. Ali em Nothing Hill, onde nunca imaginei. Comecei pelo Norte, como sempre, para o cafézinho e o pastel de nata. «Espere, não tenho aqui nada. Tenho de ir levantar»; «Deixe lá isso homem! Não vai deixar de comer porque não tem dinheiro». E de repente estou rendido e integrado na fraternidade emigrante. Depois enchi os sacos. Depois de abastecer a carteira, claro, que a Sul não há fiado. Um Casa de Santar reserva razoável, quatro latas de feijão preto, um chouriço bem apessoado, caldo verde congelado e quatro bocks já geladas. Paguei com gosto. Em libras, mas com gosto.
Tu foste encontrar o chévre e o confit de canard, dizes. Eu deixei-os em casa e vim atrás dos «Lisboas». Para já, vão-me divertindo.
CARNAVAL. É um privilégio raro poder passar esta altura do ano sem esbarrar em pequenos chouriçinhos lusos vestidos de Zorros e Cinderelas. É chato, no entanto, que por causa dos pais que passeiam os ditos chouriçinhos tenha sempre de haver alguém que trabalhe por eles. Enfim, um carnaval.

sexta-feira, fevereiro 20

A LAICIDADE Por causa de um sketch na televisão onde chamava ao eixo do Bem o eixo americo-sionista e faziam algumas piadas sobre os judeus, muitos espectáculos do humorista Dieudonné foram cancelados, o último dos quais em Paris. Não questiono as sensibilidades daqueles que se sentiram ofendidos e que o atacam em tribunal, mas as ameaças e o histerismo à volta de umas graças que podiam ter sido sobre portugueses, sobre chineses ou sobre pretos expõe a susceptibilidade dos franceses ao anti-semitismo. Não se enganem, este é o mesmo país onde um em cada cinco eleitores vota Le Pen, onde o uso do véu islâmico é considerada a prova do perigo muçulmano e onde a criminalidade é personificada nos magrebinos.
VISITAS Não, pela milésima vez, não! Não quero chouriços nem bacalhau, não tragam queijos nem morcelas, presuntos, vinho, azeitonas, pastéis de Belém, rissóis ou pastéis de bacalhau, azeite, couve, feijão frade, queijo da Serra da Estrela, café, bolos, fritos, sumos... Venham antes com vontade de comer um queijo camembert ou um chèvre, venham provar um confit de canard, de beber um bordeaux ou um Côtes du Rhone, um crepe de açúcar, banana e canela, ou fiquem-se por uma simples sanduiche de gruyere na padaria da esquina. Experimentem o croissant aux amandes e a água Volvic. Sim, é diferente, é menos salgado, é menos doce, é menos comida no prato, é francês. Não tragam as malas cheias de saudades. Não se incomodem. Por muito que custe imaginar, há quem viva sem suspirar por bacalhau à braz ao pequeno-almoço. Mas eu não represento nenhum grupo de expatriados. Estou aqui porque quero. E reconheço que existem destinos menos ditosos.

quinta-feira, fevereiro 19

VOCÊ SABIA QUE... Para assisitir a uma sessão de stand-up comedy do senhor Jerry Seinfled, actualmente em digressão pelos Estados Unidos, é preciso pagar qualquer coisa como 600 euros? Ah pois é...

terça-feira, fevereiro 17

ELOGIO DA RAZÃO PURA. Lembro-me de o meu professor de Filosofia descrever Kant como o gajo mais chato do mundo. Obssessivo, metódico, pontual, cinzento, sensaborão.... Tudo falso! De acordo com os novos biógrafos do filósofo, citados pelo Guardian, a verdade é que o Imanuel, entre os amigos, gostava muito mais de copos do que metafísica. Não foi casado, é certo, mas pelos vistos pelas melhores razões. Não lhe terão faltado mulheres para colmatar as grandes benesses do matrimónio. A expressão do jornal é elucidativa: um partygoer. Isto obriga-me a repensar tudo o que aprendi. Lembro-me, em particular, do mesmo professor contar a história caricata das vizinhas do filósofo que acertavam os relógios quando ele lhes passava à porta. Hoje percebo que durante duzentos anos só tivemos acesso à versão dos maridos.
SATANA LOPES Parece que as coisas estão quentes para o enfant terrible do PSD. Não só levou um raspanete do professor Marcelo como em França já começam a prender os fiéis do candidato a candidato à Presidência da República. É o resultado da globalização. Dizem que todo o mundo devia votar nas eleições presidenciais dos EUA porque é o destino do planeta que está em jogo. As consequências das eleições portuguesas serão menores, mas os receios aumentam.

segunda-feira, fevereiro 16

CASAMENTO. Em 1986, o «casal tipo» inglês casava-se quando a rapariga tinha 24 anos e o rapaz 26. Hoje, a rapariga tem 29 e o rapaz 31. Todos os anos aumentam uns meses à média. Todos os anos evoluem um pouco. Se calhar, como nota o Silva, é o medo de comprometer os anos felizes em troca de uma festa para os amigos. Ainda para mais, uma festa que acaba com rituais estranhos de comboios humanos a dançar o «vermelho vermelhão». Trinta e um parece-me bem. Sempre dá algum tempo para nos habituarmos à ideia.
ESTADO DA BLOGUENAÇÃO. Não sei se têm a mesma sensação, mas eu acho que os blogues de direita, de um modo geral, estão a sofrer de fadiga crónica. Ou porque estão cansados ou porque arranjaram bons empregos, o certo é que os seus autores estão a abandonar estas lutas progressivamente. A consequência está à vista: a esquerda começa a insultar-se mutuamente. É pena. As críticas do Filipe Moura ao Daniel Oliveira, por exemplo, são lamentáveis. O Filipe, que tanto gosto de ler, ataca o Daniel exactamente pelas duas coisas que mais lhe admiro: a militância partidária assumida e o anti-comunismo primário. Acho mal. A esquerda moderada devia seguir estes dois princípios à risca. Isto, claro, se ainda acreditar na vida depois da morte.
BOLA II Em terreno pouco neutro, a euforia do clássico SLB-FCP foi alimentada por um cozido à portuguesa, que soube muito bem ao meu amigo Belo, principalmente porque o Benfica conseguiu arrancar um empate ao Porto, o que podemos considerar como uma vitória face aos embates mais recentes a que assistimos juntos (lembras-te, Rui?). Confesso que, para mim, o prato ficou pelo correcto, tal como o resultado no marcador. Valeram as imperiais e os pastéis de nata, que aqui se comem aos pares. Se a RTP Internacional funcionar, as próximas futeboladas serão vistas aqui em casa. Mas as especialidades portuguesas serão mantidas na ementa, André.
BOLA. Emigra que é emigra vê a bola com a emigralhada. Seja no Café Estrela, seja na muy nobre embaixada local do campião (a Casa FCP London), o importante é poder ter bocks à mão e preguinhos encharcados em Savora. Depois é ouvir os comentários bilingues ao árbitro - fuck deste cabrão! - e aos dribles dos nossos artistas – good, good, avia-lhe! Se a coisa dá para golos honestos (os deles, claro, são sempre um escândalo, unbelievable…) há também que contar com calorosos abraços e cúmplices apertos de mão no final do jogo. Um must!
DESMENTIDO PÚBLICO. Ernesto* DF, homem recatado e de vícios privados, associa-me a práticas ilícitas que quero publicamente repudiar. Para que fique claro, não sei quem é o Vostradeis, nunca fui ao Lux e nem sequer sei o que são plantas.
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sexta-feira, fevereiro 13

PORTUGAL Missão impossível.
1 MINUTO E 50 SEGUNDOS foi o tempo que o Telejornal deu para divulgar um artigo escrito de Freitas do Amaral na Visão (artigo não acessível) sobre o aborto, recorrendo a imagens de arquivo e das páginas da revista. Isto não é televisão e é um parco serviço público.
BARBIES COMO NÓS. A «bomba» é anunciada na edição de hoje do Estadão. O romance acabou para Barbie e Ken. Depois de 43 anos como um dos mais belos casais do mundo das bonecas, o par de plástico está rompendo. Sua “agente de negócios”, Russell Arons, vice-presidente de marketing da Mattel, diz que “sente que é tempo de divertirem-se, sozinhos.” Aqui está Zé Mário. Queixavas-te da retrógrada Anita, aí tens uma Barbie avant-garde.
O MARCO. Por sugestão do País Relativo cheguei ao artigo do jornalista Rui Baptista, do Público, sobre Avelino Ferreira Torres. Não tenho por hábito elogiar a concorrência profissional, por muitas razões que não explicarei aqui. Em síntese, digo apenas que normalmente não encontro grandes razões para o fazer, e que já há demasiadas pessoas a fazer esse «serviço» por mim. Hoje, no entanto, vejo-me obrigado a abrir uma excepção. O Rui Baptista, que não conheço de parte nenhuma - ou seja, isto não é um favor de «camaradagem» -, faz um retrato exemplar do autarca feudal. A escrita é criativa e limpa. As ideias são claras e estão plenamente justificadas pelos factos. Pode parecer um elogio exagerado para uma peça como qualquer outra, pesada a quatro ou cinco mil caracteres, mas não é. As minhas referências são estes textos.

quinta-feira, fevereiro 12

ADM Não sei se se lembram mas, na adolescência, a porta de entrada da casa dá directamente acesso ao frigorífico. Ora, certa vez, em plena crise de crescimento, encontrei uma tijela enorme de mousse de chocolate que a minha mãe tinha deliciosamente preparado para coroar um jantar especial preparado para os meus tios, de visita a Lisboa. Como se sabe, o chocolate é uma matéria perigosa, cuja ingestão causa sérios problemas digestivos com consequências intestinais, mesmo para o estômago blindado de um jovem. Para resumir, posso dizer que durante duas semanas ninguém se aproximou de uma certa divisão comum da casa, o que obrigou os seus habituais utentes a abusar da disponibilidade gentil da vizinha do lado. Do incidente tirei uma lição que tenho usado em diversos momentos na minha curta vida. Foi só vários meses depois, já estava eu recuperado, que fui confrontado pela minha mãe: "Se soubesses que ias causar aqueles estragos, filho, tinhas comido aquela mousse toda?" Mas como é que eu podia saber?
INÓCUO, O TANAS. Primeiro o Pedro a dizer que se está «nas tintas para ser de direita ou não», agora o Ricardo, em mais um excelente post, a dizer que tem opiniões contraditórias em relação a todas as grandes questões que têm dividido esquerda e direita. Este passeio de regresso à blogosfera está a ser compensador. Tranquiliza-me ver que a moderação sempre tem lugar entre a inteligência.
DD. O Pedro Mexia decidiu alimentar o blog a presatações mensais. Como leitor «exigente» do Dicionário só posso lamentar a decisão e ir-me contentando com os posts recentes. Há dois, em especial, que recomendo vivamente.
O primeiro, claro, sobre a guerra. «Não», diz o Pedro, não apoiaria a guerra se soubesse o que sei hoje. Continuo à espera de ouvir a mesma sinceridade de muito boa gente.
O segundo, melhor ainda, sobre a recorrente discussão esquerda/direita. É um post feito a propósito da Maria Filomena Mónica - cujo pessimismo, confesso, muito admiro - e tem revelações imperdíveis. Não o cito, linko.
RITA LEE.
Amor sem sexo,
É amizade
Sexo sem amor,
É vontade...

Fui ao Kazaa à procura do ritmo do poema. Escrevi o título: «Amor e Sexo». De certeza? perguntou-me logo o bicho. É que de acordo com o «adult filter» (cuja existência desconhecia) havia duas palavras perigosas na minha pesquisa. Parece-me exagerado. Que o amor seja coisa de adultos ainda consigo perceber, agora o sexo... Púdicos!

AÇORES. Para o André, recém chegado à blogosfera, um abraço e este postal amigo.

quarta-feira, fevereiro 11

INTERVALO. A emissão segue dentro de momentos.

quinta-feira, fevereiro 5

CASO JUPPÉ L'affaire dans l'affaire, é como os franceses chamam às alegadas pressões que os juízes terão sofrido e que continua a fazer correr tinta nos jornais franceses. Exactamente por ser um caso polémico, houve no meio disto muitos delírios jornalísticos. Um foi o do canal de informação LCI pôr um cameraman montado numa mota a seguir, à boa maneira da SIC Notícias, o carro de Alain Juppé à saída do tribunal. Diz-se que o senhor considerou a cena "indigna" e fez chegar as suas queixas à direcção. A fúria deve ter sido bem acalmada, porque Juppé garantiu, quatro dias depois, ao telejornal à casa-mãe TF1 13,2 milhões de espectadores durante a entrevista onde anunciou que iria manter os cargos políticos. Na mesma noite, à mesma hora, a concorrente France 2, canal público, decidiu avançar com a versão de que Jupé ia abandonar a vida política. Enganou-se, mas não enganou muita gente porque mais de um em cada dois telespectadores tinha sintonizado a TF1. A diferença para Portugal é que o apresentador, David Pujadas, apresentou desculpas no dia seguinte.
DESPORTO NACIONAL Depois de várias acções de protesto, a última das quais uma concentração ontem, em frente à Assembleia Nacional, um colectivo de movimentos que é contra a lei que visa proibir o uso de símbolos religiosos nas escolas francesas vai organizar nova manifestação a 14 de Fevereiro. Os pró-lei já responderam: manifestação a 6 de Março.
PARENTESCOS O candidato a candidato dos democratas às eleições presidenciais nos EUA John Kerry não tem só uma mulher portuguesa. Também tem um primo francês.
SOLIDARIEDADE TROTSKISTA A Lutte Ouvrière emitiu hoje um comunicado onde apoia a liberalização do aborto em Portugal. A extrema-esquerda francesa com o Bloc de Gauche.
TV POR CABO Luto com vários argumentos que me empurram a finalmente instalar a TV por cabo. Primeiro: ver filmes e séries sem pensar que o Clint Eastwood foi possuído por um ventríloquo francês. Segundo: ter mais escolha e canais de informação. Terceiro: ter a RTP Internacional. Pensando bem, este não conta como vantagem.
RÁDIO VS. TV Há dez dias que a maioria dos jornalistas das rádios públicas francesas estão em greve porque querem ordenados iguais aos dos jornalistas das televisões públicas, o que quase acabou com os noticiários radiofónicos. Na minha opinião, a reivindicação é mais que justa. O único argumento que vejo para a diferença - a exposição pública que os jornalistas de TV têm - não se aplica a todos e é um critério dúbio. Sim, porque lá por serem mediáticos não são obrigados a ir aos eventos sociais nem a dar entrevistas às imprensa cor-de-rosa.

PS: Já depois de escrever o post, li o Libération, que traz uma sondagem onde a rádio é considerada o media mais credível, à frente da imprensa. No fim vem a televisão.

DEMOCRACIA E ALARVIDADE. Um grupo de activistas contra a guerra foi assisitir ao debate sobre o caso Hutton, no Parlamento, para poder gritar a meio da sessão quando o primeiro-ministro falasse aos deputados. A iniciativa não podia ter corrido melhor (do ponto de vista deles, claro). Assim que Tony Blair começou a falar no assunto, as alminhas indignadas lá encheram os pulmões e destaram a cuspir impropérios das galerias. Seguiu-se a costumeira pausa e respectiva evacuação dos trogloditas. Do alto da minha sabedoria latino-eurpeia, não estranhei nada. Nem podia, como é óbvio. O que realmente me surpreendeu foi o semi-escândalo que surgiu depois. Durante todo o dia, os telejornais abriram com os ditos activistas aos berros no Parlamento. Nos estúdios, todos os comentadores condenavam o acto com o vocabulário apropriado à anormalidade da situação.
Gostei de registar várias coisas no acontecimento: primeiro, a surpresa que causou. Um bom sintoma que a javardice, por estas paragens, não é rotineira. Segundo, o facto de todos os deputados se esforçaram por ignorar o tumulto. Não fosse a palhaçada estar bem organizada e, ao que me pareceu, os trabalhos tinham continuado como se nada fosse. Terceiro, as reacções. Ou melhor, a falta delas. Não vi nem o presidente da Câmara dos Comuns a responder na mesma moeda, isto é, aos gritos; nem nenhum deputado a defender os animais com argumentos idiotas de liberdade de expressão. É a vantagem de a educação não ser património ideológico. E de não se confundir democracia com alarvidade.

quarta-feira, fevereiro 4

JUSTIÇA. Um certo editorial moveu paixões contra o seu autor. Eu juntei-me a essas paixões até que hoje... fez-se-me luz. O senhor tinha razão.
DEBOCHE À VISTA. Os ingleses, vou-me agora apercebendo, têm um fetiche por estudos sociológicos. Todos os dias dou de caras com conclusões alucinantes nos jornais mais sérios cá do burgo. A última é do Centro de investigação John Moores, da Universidade de Liverpool (?). Dizem os senhores investigadores que depois de ouvir umas centenas largas de jovens que no Verão rumam a Ibiza - aquela espécie rosadinha e anafadinha, portanto - concluíram que os adolescentes correm sérios riscos de vida pelos seus comportamentos «promíscuos». E agora a parte juicy : um quarto dos rapazes que fazem férias na ilha espanhola confessa ter tido relações sexuais com mais de uma parceira, no espaço de uma semana. Nas meninas, menos expeditas ou mais honestas, a taxa baixa para uma em cada sete. Juntem este facto aos 200 mil brits que vão rumar aí dentro de uns meses e durmam bem.

terça-feira, fevereiro 3

CARPE DIEM E voilà, Alain Juppé mantém-se na política, pelo menos até ser analisado o recurso. Num ano pode acontecer muita coisa. Pode ser que apareça um lór Huttóne.
TABU À LA SANTANA LOPES É hoje que Alain Juppé anuncia se fica ou não na política. Antes de conhecer a sentença que determina dez anos sem que possa ser eleito para cargos públicos, afirmou que abandonaria a vida política se fosse condenado. Mas, agora que sabe, qual será a sua decisão? Rendez-vous hoje às 20:00 horas no telejornal da TF1.
O PADRINHO Jacques Chirac, presidente da mui laica República francesa, deu ontem uma palavra de apoio ao seu amigo Alain Juppé, a quem reconhece inúmeras qualidades, entre as quais de "honestidade" e "humanismo". Disse publicamente, numa deslocação oficial no exercício das suas funções, que "a França precisa de homens assim". Não, isto não pode ser considerada pressão sobre os juízes. Ele não disse: tenho uma proposta irrecusável para fazer aos juízes...
GOOD MEMORIES Alain Juppé entrou na política pela mão de Jacques Chirac como seu conselheiro e foi da sua mão que saíram muitos dos discursos de Jacques Chirac. Foi durante a presidência de Jacques Chirac na Câmara Municipal de Paris que Alain Juppé foi tesoureiro da autarquia. Nessa mesma altura, Jacques Chirac era presidente do RPR e Alain Juppé secretário-geral. Mais tarde, Alain Juppé foi primeiro-ministro indigitado pelo presidente da República Jacques Chirac. Recentemente, Alain Juppé foi eleito presidente da UMP, o partido criado pelos apoiantes ao segundo mandato de Jacques Chirac na presidência da República.

COISAS DA VIDA Foi enquanto adjunto para as finanças de Jacques Chirac na Câmara Municipal de Paris que Alain Juppé pagou o salário a sete funcionários do RPR, partido onde na altura era secretário-geral e Jacques Chirac presidente. Foi o presidente Jacques Chirac que dissolveu o governo de Alain Juppé em 1997 e marcou eleições antecipadas, ganhas pelos socialistas. Foi durante o segundo mandato de Jacques Chirac na presidência da República, para o qual contribuiu reunindo a direita na UMP, que Alain Juppé foi condenado a 18 meses de prisão de pena suspensa e dez anos de inelegibilidade pelas irregularidades praticadas na Câmara de Paris.

segunda-feira, fevereiro 2

ÚLTIMA HORA. A Casa Branca acaba de anunciar que o presidente Bush, num gesto magnânimo, decidiu formar uma comissão de inquérito para investigar as informações dos serviços secretos que serviram para justificar a guerra do Iraque. O Estrangeirados também pode avançar em primeira mão que o imparcial Lorde Hutton recebeu já uma proposta para voltar a interromper a reforma e rumar aos Estados Unidos em comissão de serviço.

Ficha técnica: A informação foi apurada pelo cruzamento dos depoimentos de três fontes anónimas, todas reconhecidas pelo Sindicato dos Zeladores da Ética Profissional Jornalística e pela Associação Recreativa dos Juristas na Terceira Idade. As entrevistas foram realizadas em locais com ar condicionado, serviço de bar permanente e buffet de saladas. No final, todos os entrevistados assinaram um compromisso de honra, na qual juraram sentir-se «muito confortáveis» no papel de fonte.