quinta-feira, fevereiro 17
MORDOMIAS Em França existe uma tradição muito engraçada que é o "alojamento de função". É assim que as porteiras portuguesas têm a sua "loge" nos prédios onde trabalham, tal como alguns empregados das escolas ou estabelecimentos públicos. Por exemplo, um dos meus vizinhos mais afortunados é o director do "Jardin des Plantes", um jardim secular no coração da cidade com animais e vegetação suficientes para fazer crer que se acorda no campo. Por inerência do cargo, os ministros têm também direito aos alojamentos de função, que podem ser nos respectivos ministérios ou alugados. A polémica surgiu quando o titular das Finanças, Hervé Gaymard, decidiu alugar dois apartamentos de 300 m2 cada - em duplex - para instalar a sua família, composta pela mulher e oito filhos. Custo: 14 mil euros por mês saídos dos cofres do Estado. Primeira explicação: no ministério só há espaço para dois ministros e nós somos quatro. Segunda explicação: para as crianças não mudarem de escola. Terceira explicação: trabalho 120 horas por semana (no total, a semana tem 168 horas) e não podia perder tempo a procurar. Face ao escândalo, o governo definiu novas regras: cada ministro tem direito a 80m2 mais 20m2 por cada filho, o que perfaz 240m2 para a família Gaymard. Digamos que, para Paris, não é nada mal, tendo em conta os 20 m2 que normalmente calham às nossas porteiras. Mas no meio desta história houve um pormenor que me tocou. Foi o chefe de gabinete do primeiro-ministro que aprovou o negócio e não o próprio Raffarin. Será o mesmo de Martins da Cruz?
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