terça-feira, julho 27

UMA (VERDADEIRA) CIDADE UNIVERSITARIA Depois de uns dias espectaculares em Nova Iorque, dos quais falarei mais tarde e com mais tempo, estou ha quase uma semana em Calgary (Estado de Alberta, a 1000 km este de Vancouver), uma cidade com historia e peso economico no Canada mas sem qualquer interesse turistico. Mais exactamente, estou alojado num campus universitario – por razoes que nao interessam aqui aprofundar. Desde posto dos correios, livraria, varios restaurantes comerciais, alem da cantina (que nao recomendo) e inumeros servicos de apoio e entretenimento, tem umas condicoes invejaveis para fazer desporto, com campos de basquetebol, piscina, ginasio de fitness, caiaques para andar no rio, bicicletas de montanha… A somar a tudo isto, esta situado num luxuriante espaco verde onde as residencias universitarias oferecem desde os tradicionais dormitorios onde os estudantes partilham os quartos e os chuveiros aos apartamentos com varios quartos, estudios individuais e ate suites! Imaginem quantos anos os veteranos de Coimbra iriam ficar por aqui… PS: E claro que eu podia esforcar-me e procurar os acentos neste teclado, mas assim fica mais credivel e acrescenta um toque exotico.

sexta-feira, julho 23

NOTAS POLÍTICAS. (Desculpem, mas apetece-me)

1. Na senda dos Verdes, que oportuna e inteligentemente questionaram a legitimidade de Nobre Guedes para ser ministro, Fernando Louçã tentou hoje criar um facto político por ter descoberto que um secretário de Estado veio directamente do mundo privado para o Governo. Mas fez mal. «Já tínhamos um ministro do Grupo Mello, agora temos um secretário de Estado da Associação Nacional de Farmácias». E então? Teremos de ter governantes vindos do desemprego? Têm de ser todos académicos? Ou terão de ser políticos carreiristas que nunca provaram nada no mundo real? Não tem cabimento. O mais engraçado é que até o líder parlamentar do PCP, velho amigo da «democracia» da Coreia do Norte, se lembrou de dizer que o que importa é «a ética política». Como é evidente.

 2. Tenho duas ideias sobre Durão Barroso com que, aparentemente, os nossos opinion makers não concordam. Uma menor, relativa ao nome pessoal; outra mais importante, relacionada com o seu papel no desempenho do novo governo. Sobre o nome, espanta-me que a nossa comunicação social (alguma, pelo menos) se sinta obrigada a aceitar a nova designação que Durão escolheu para si próprio. Que os jornalistas de outros países aceitem o pedido não vejo problema de lesa-majestade – só agora é que irão citar o seu nome, de qualquer forma, por isso não tinham razão para fazer o contrário. Mas em Portugal Durão é Durão. Não é o senhor Barroso. Respeitar a audiência significa facilitar-lhe a informação. Neste caso, significa mandar às ortigas o capricho do Sr. Barroso.
Quanto à sua eleição para a presidência da Comissão acho, como a maioria dos portugueses (para usar a técnica de generalização inventada pela família Soares), que é um orgulho para o País. Mas a sua decisão, quer queiram os seus apoiantes quer não, tem muito mais de concretização pessoal do que de abnegação. Em nome da imagem do país, do projecto europeu, ou do que quer que invoquem. Por isso mesmo, o sucesso ou desvario do Executivo de Santana deve ser assacado, em primeiríssimo lugar, a Durão Barroso. Não esqueçamos: foi ele que nos deu este Governo.

3. José Sócrates não podia ter mais sorte. Não só vai receber a liderança do PS quando o Governo é o que é, como dentro do seu partido todos os habituais roedores de calcanhares resolveram cavar a sua própria sepultura e dar de bandeja os trunfos com que lhe poderiam estragar a carreira nos próximos meses\anos. João Soares e Manuel Alegre, mais os seus habituais compagnons de route, resolveram subir ao púlpito e gritar 25 de Abril Sempre!. «Estive nas batalhas mais complicadas», lembrou Soares Jr., no tom épico com que se imagina a conquistar Constantinopla; «toda a minha vida tem sido um combate desigual», proclamou com idêntica solenidade o poeta Alegre, depois de muitas horas de conversas com o Bloco de Leste remanescente do PS. O debate será clarificador, não há dúvida, mas para os portugueses perceberem o nível de insanidade destes senhores.

 4. Ao lado de Manuel Alegre, na conferência de imprensa, só uma pessoa se sentou: Maria de Belém. Não, não foi por nostalgia pela velha esquerda de punho fechado. Foi simplesmente porque o seu ódio a António Guterres é cego. E como foi Sócrates quem uma vez lhe lembrou, olhos nos olhos, que Belém «não seria ninguém sem o engenheiro Guterres», o ódio ganhou ramificações.

5. A mudança de pasta de Teresa Caeiro não tem muitas interpretações, só tem uma. Vou tentar adivinhar: Portas queria-a na Defesa, mas não tinha o «sim» definitivo de Santana. Num golpe de esperteza saloia – que até é de estranhar – anunciou o seu nome para consumar o facto. Lopes, como qualquer rookie,  não resistiu à tentação de se evidenciar pela lei do mais forte. Perdeu junto da opinião pública, que assistiu à primeira prova do desvario, mas ganhou – sem querer, parece-me – junto de quem menos esperava: Sarmento e Arnaut perceberam que não vale a pena fazer braços de ferro... porque o homem é louco.

quinta-feira, julho 22

MARCELO A DVD JÁ! Tenho assistido a várias discussões sobre as colecções dos Monty Python, do West Wing ou dos Friends. Sei que há uma falange enorme de quem espera ansiosamente pela compilação de Seinfeld em DVD. Mas eu, perdoem-me a insanidade, dou tudo para daqui a uns anos, quando tiver o privilégio de passar um Verão em Portugal, estar a discutir alegremente com outro fanático as gravações dos momentos de maior brilho da TVI. A última intervenção do professor, que só agora ficou disponível na Net, é um deles. A corrosão política em estado puro, genial. Só por isto, pela inspiração que o momento dá a Marcelo, já valeu a pena termos novo governo.
GILBERTO MADAÍL DESPROMOVIDO. Autor do feito: José Romão. O seleccionador da equipa olímpica conseguiu hoje ultrapassar o ilustre presidente da Federação de Futebol na intensa disputa pelo título de representante desportivo mais fajuto no panorama nacional. Apesar de um empate no capítulo Apresentação (ambos escolhem fato Maconde e pêra facial), Romão é quase imbatível no capítulo Discurso. Hoje, na primeira de muitas intervenções públicas com que certamente seremos brindados nas próximas semanas, o seleccionador das esperanças (!) já deu um ar da sua graça. A escolha dos jogadores, disse, «é o reconhecimento da sua categoria enquanto jogadores profissionais e também o reconhecimento de que são atletas de alto nível do futebol português e de valor indesmentível». Mas porquê estes, insistiu o jornalista que entrevistou o respeitável míster. «Têm dentro deles sentido de grande polivalência», iluminou o entrevistado. Para terminar, deixo-vos a frase que traduz as ambições do nosso líder: «O que é sensato é que nós definirmos como primeiro passo qualificarmos, passar o nosso grupo. E depois, numa situação de grande ambição que levamos tentar chegar longe. E tentar chegar longe é que a nossa selecção se apresente sempre com índices de motivação altíssimos, com a consciência que tem uma qualidade proporcional aos outros».

domingo, julho 11

VACANCES Três semanas sem computador, jornais, rádio, TV e internet. Há pessoas que gostam de tirar férias da civilização, mas eu não sou uma delas. Vou estar a roer-me para saber quem estará no governo Santana Lopes, quais as movimentações no PS, as últimas contratações do FCP. Mas alguém que vai pela primeira vez a NY tem direito a queixar-se? Vou tentar mandar um postal de vez em quando. E farei um relatório mais extenso na chegada. À bientôt.

sábado, julho 10

SAMPAIO Às 22h15, Paris parou para ouvir o Presidente. Nem um carro, nem um metrop, nem uma bicicleta. Para quê?
CRISE Por este caminho, Sampaio vai morrer pobre e sozinho.

quinta-feira, julho 8

JUSTIÇA Advogados e magistrados franceses manifestam-se hoje em frente às prisões contra a sobrelotação das prisões, onde existem mais 10.000 detidos do que os lugares previstos. Os penitenciários preparam um abaixo-assinado pela melhoria de condições de trabalho nos tribunais.

quarta-feira, julho 7

MICHAEL MOORE Estreia hoje nas salas de cinema francesas Fahrenheit 9/11, o filme que recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes e é recebido hoje com honras de primeira página no Libération. Colocando de parte a assumida propaganda anti-Bush, para a qual o público já está previamente avisado, o seu mérito é de poder reforçar a tendência que se tem verificado nos últimos anos de documentários com um sucesso comercial significativo em França, como Les Glaneurs et la Glaneuse, de Agnès Varda, Être et avoir, de Nicolas Philibert, "Super Size Me", de Morgan Spurlock, 10e chambre, instants d'audience, de Raymond Depardon. Uma alternativa ao puro - e tantas vezes enfadonho - entertainement dos filmes de ficção.

terça-feira, julho 6

ADEUS, UM ABRAÇO. Era o número dez, jogava com os dois pés, era o nosso Pelé, era o Deco alez, alez...
SOPHIA. Há uns anos, a pretexto de qualquer aniversário ou de um prémio mais, um dos nossos jornais dedicou muitas páginas a Sophia de Mello Breyner. O habitual: análises densas, elogios bonitos, elogios básicos e lugares comuns. Um dos textos, para mim, fez a diferença. Estava assinado por uma leitora do jornal que tinha a minha idade. Na altura, suponho, 18 ou 19 anos. Não decorei o nome. Escreveu ao jornal para dizer que devia o rumo da sua vida a Sophia. Mais precisamente, aos livros infantis de Sophia. Mais precisamente, à Menina do Mar. Fiquei feliz pela coincidência e pensei que podíamos ser muitos mais. Confirmei-o ao longo destes últimos anos. Somos muitos. Depois da Menina do Mar, todos nós passámos a olhar os livros como caixas de novas expectativas. Passámos a procurar traços da nossa própria vida nas páginas, para encontrar soluções ou simplesmente a solidariedade das personagens. Passámos a gostar de passsar o tempo com as palavras. Passámos, em suma, a querer ler e a viver perto dos livros. A Sophia de Mello Breyner devemos isso tudo.

segunda-feira, julho 5

HÉLAS Acima de tudo, estou satisfeito por não ter terminado com cenas tristes, com empurrões ao árbitro, como no Europeu de 2000 e Mundial de 2002. Perdemos, mas com muita dignidade, a jogar bom futebol, com jogadores de idades e talentos diferentes, mas capazes de trabalhar em equipa. E o ambiente, que daqui apenas tive descrições e imagens, terá sido um dos melhores de sempre. Em França, existia desde o início uma simpatia pela selecção portuguesa e li e ouvi várias vezes desejos de que o EURO'2004 acabasse numa final Portugal-França. Depois, quando a França voltou para casa, acho que os jornalistas se deixaram levar pelo entusiasmo que se vivia em Portugal e com a numerosa comunidade lusa daqui. Na emissão de ontem na TV, antes do início do jogo, fizeram directos das ruas de Lisboa e de um café tuga em Paris onde as transmissões dos jogos juntaram dezenas de pessoas. Por azar, não se lembraram de procurar restaurantes gregos.

domingo, julho 4

POLÍTICA & FUTEBOL Luis Felipe Scolari não aceita o convite de Jorge Sampaio para formar governo e a hipótese Pedro Santana Lopes volta a ser considerada. Neste caso, a presidência da Câmara Municipal de Lisboa fica livre. Mas nunca pensei que o Deco se metesse nestas coisas.

sexta-feira, julho 2

NACIONAL-PORREIRISMO. Posso garantir que o erro do realizador da RTP que nos fez perder o golo extraordinário do Maniche é motivo para piadas em muitos países. Perguntava-me ontem um colega inglês se eu sabia o que tinha acontecido ao senhor: «Coitado... aposto que nunca mais volta a pôr os pés na televisão». Ri-me. Só por pensar quão bizarra é, de facto, essa nossa «especificidade» de tudo perdoar. Pior: de fazer de conta que os erros não existem. É inconcebível que não haja uma linha escrita sobre um detalhe curioso que as pessoas ainda hoje comentam. Eu pelo menos fartei-me de procurar e não encontrei nada. E o pior é que não estranho. Já conheço a lógica: «Caaaalma camarada... lembra-te que amanhã podes ser tu a fazer uma asneirada assim». Em suma, como no fundo somos todos medíocres, o melhor é não criticar. Isto não vos irrita?
FOTOS. Para reeditar o boom de visitas, prometemos imagens exclusivas da festa das comunidades portuguesas assim que Durão Barroso chegar a Bruxelas.
EUROCÉPTICOS, NÓS? A situação é inédita. Ontem, no Parlamento, e em termos legislativos, PSD e CDS/PP conheceram a sua primeira brecha. Que é como quem diz: não votaram no mesmo sentido. A divergência levou a que um projecto do PCP fosse aprovado graças à atitude dos populares, que decidiram abster-se, deixando isolada a bancada social-democrata no voto contra. Esta foi a primeira derrota do PSD em votações em plenário desde o início da legislatura. (...) O diploma em causa, cuja viabilização deixou espantados os comunistas, prende-se com os poderes de acompanhamento da Assembleia da República em relação ao processo de construção da União Europeia. (in DN de hoje)

quinta-feira, julho 1

NO CALOR DA FESTA Um leitor pediu uma certa imagem das comemorações aqui em Paris pela passagem da selecção portuguesa à final do EURO2004 e nós não desiludimos.


Aqui está, passou no jornal da tarde da France 2 e garanto que o apresentador foi bastante discreto nos comentários. Quem quiser ver o filme, entre aqui, clique no Journal de 13h (provavelmente o link é efémero) e avance até aos 40 minutos.

SOMOS OS MAIORES A seguir, tanto faz. Podem ser os gregos, para tirar a desforra, ou os checos, porque são os melhores. Lá garganta temos. E que tal aplicar toda esta energia e criatividade no país? É que, que eu saiba, ganhar no futebol não nos coloca no G8. E o EURO2004 arrisca-se a ficar conhecido pelo "campeonato dos pequeninos".
GRITO DE GUERRA NOS CHAMPS ELYSEES Viva Portugal, car****!


Eram aos milhares. Já o tinham sido quando o FCP Porto venceu a Liga dos Campeões e na semana passada, quando Portugal passou às meias-finais. Imagino que em Portugal os comentários se dividam:


"Olha, lá estão outra vez os emigras! Até dançaram folclore". Ou então


"Pôrra, viste os portugueses que ocuparam os Campos Elíseos?!". Mas para quem tem vindo a conviver com esta comunidade nos últimos três anos, vai percebendo que estes momentos


servem para soltar um grito, mostrar que existem. Durante anos viveram em bairros de lata e foram pedreiros, mulheres de limpeza e porteiras. Por isso, foram aprendendo a ser invisíveis.


Os franceses chamam-lhe integração. Mas em cada um destes jovens bate um coração português e muitas vezes mais forte do que naqueles que sempre viveram no país. E nestas alturas mostram o apego às raízes, o orgulho nos seus pais e o desejo de serem ainda mais portugueses.


Por sua vontade, iam a voar até Portugal.


Não, são os quatro mosqueteiros ao serviço do monsenhor Scolari.


Vivam os tugas!

PS: Reportagem fotográfica de André "de Gouveia", excepto fotos 2,6 e 7