quarta-feira, março 23
A PRIMEIRA VITÓRIA Durão Barroso conseguiu o impossível: a unanimidade da extrema-esquerda, comunistas, socialistas, Verdes, centristas, liberais, conservadores, soberanistas e extrema-direita em França contra ele. Ninguém quer a directiva Bolkenstein nem o dumping social e o alvo a abater é o presidente da Comissão Europeia. Nesta questão, todos apoiam Jacques Chirac. Não é bonito, um país unido?
quarta-feira, março 9
LA MANIF Vi hoje a na RTP algo sobre o facto de em Portugal haver cada vez menos manifestações e achei irónico. É que França deve ser precisamente o país onde existem mais protestos organizados. Poucos são os dias em que não há uma manifestação, seja em lembrança da jornalista raptada no Iraque, em defesa dos serviços públicos, a favor de eleições democráticas no Togo ou contra a ionização dos alimentos. Por exemplo, só nesta semana tivémos na terça-feira os estudantes na rua, na quarta foi a vez dos investigadores e na quinta-feira espera-se uma grande mobilização dos trabalhadores em geral para exigir melhores salários e mais emprego. É mais um retrato do mundo civilizado.
segunda-feira, março 7
DURINHO Conta o L'Express que, recentemente em Bruxelas, Jacques Chirac se virou para José Manuel Barroso, o presidente da Comissão Europeia, e lhe disse "vigorosamente": "É preciso que os segures, os teus gajos!" Não se conhece a resposta de Durão. Mas pode-se imaginar uma.
INDEPENDENTES José Sócrates escolheu, e bem, vários independentes para o novo governo - e poucas mulheres, diga-se. Mas esse modelo foi recentemente revisto em França. Jean-Pierre Raffarin (centro-direita) também chegou a recrutar, logo a seguir às eleições em Maio de 2002, alguns ministros na "sociedade civil": Luc Ferry (Educação), Francis Mer (Economia), Jean-François Mattei (Saúde) ou Jean-Jacques Aillagon (Cultura). Hoje nenhum destes continua em funções. As condições eram as mesmas: maioria absoluta, necessidade de reformas, desejo de credibilizar a política. Mas os ministros não resistiram às pressões ou escândalos: Luc Ferry, um filósofo reconhecido, cedo demonstrou soluções pouco consensuais e hoje é um crítico deste governo. Francis Mer vinha do meio empresarial e para lá voltou sem deixar obra. Mattei, especialista em genética, caiu logo a seguir à crise da canícula, incapaz de explicar a ineficácia dos serviços em se aperceber dos efeitos mortais do calor no Verão de 2003. Aillagon passou da presidência do Centro Pompidou para o governo mas também não resistiu, desgastado pelas manifestações dos intermitentes. Na remodelação que fez em Março de 2004, logo a seguir à grande derrota nas eleições regionais, Raffarin justificou ter colocado elementos com mais experiência de política para os cargos importantes com a necessidade de saber negociar e defender as novas leis. Veremos se Sócrates não será obrigado a rever a sua equipa, não por falta de capacidade das pessoas, mas por uma questão de estabilidade dentro do governo. É que um primeiro-ministro não pode passar a vida a apagar fogos e não estou a ver Sócrates no papel de bombeiro.
ESTADO DE CHOQUE Até agora ouvi e li poucas reacções interessantes ao novo governo. A maioria ainda está chocada com a escolha de Freitas do Amaral (também eu). Percebi que o ministro do Ambiente é bastante consensual, que nas Finanças está alguém que é respeitado pelos principais economistas portugueses (e que deve ter aprendido rapidamente que no Governo não se pode pensar em voz alta) e que, dos socialistas, António Costa (o Rasputine do PS) e Luís Amado (gosta de fazer bricolage) são considerados competentes. De Mariano Gago há pouco a dizer, a não ser bem. A proximidade da ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues a Gago e o seu interesse pelas tecnologias trazem também bons augúrios. Quanto aos restantes, os comentários são magros e prudentes. Por mim, Sócrates teve o mérito de ter conseguido surpreender o país - pelo melhor e pelo pior - e de ter trazido várias caras novas para a política, o que fazia falta.
quarta-feira, março 2
BLACKOUT ATÉ QUANDO? José Sócrates tem o direito de querer constituir uma equipa em paz e sem quaisquer pressões partidárias ou mediáticas, mas já é altura de se saber quando e como é que o futuro primeiro-ministro pretende anunciar o novo governo. Não vamos deixar para o último dia, ao estilo da apresentação das equipas de futebol, a entrarem no estádio, ministro a ministro, sob os holofotes, e a darem uns toques de bola antes de assinarem o livro.
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