segunda-feira, setembro 27

LISBOA vs. PARIS O Rui resolveu abrir uma pequena polémica sobre Paris. Permitam-me dar uma achega a favor do André sobre o que Paris tem: um presidente de Câmara que consulta os seus habitantes sobre as prioridades e os grandes projectos para a cidade, que apoia a realização de sessões de cinema para surdos e cegos, que aluga táxis para deficientes físicos, que resiste às pressões dos automobilistas e insiste nas ciclovias, que fez de uma praia artificial em Paris um sucesso copiado em vários países, que continua a abrir o Hôtel de Ville durante a Nuit Blanche, apesar de ter sido esfaqueado logo na primeira edição, e que accionou um processo contra o presidente da República por causa das despesas ilegais que este (e a sua mulher) fez ocupava quando as mesmas funções... O resto, meu caro Rui, é paisagem.

sexta-feira, setembro 24

TODA A VERDADE Neste momento em que escrevo, a RTP está em directo a espreitar por uma janela da garagem do edifício da Polícia Judiciária em Portimão para ver se os principais suspeitos chegaram às instalações. Pediu licença, afastou os mirones que esperavam para apupar a mãe e o tio da criança alegadamente morta e meteu a objectiva no "buraco da fechadura". Se a RTP anda assim, nem quero saber o que terá feito a TVI.

sábado, setembro 11

11S Fez ontem três anos que me instalei em Paris. Esta data seria provavelmente esquecida, não fosse o que se passou no dia seguinte. Como estava mais preocupado em encontrar trabalho e ainda andava a descobrir a cidade, não me apercebi de nada de anormal durante todo o dia. Não passei em frente a lojas com multidões a ver as televisões, não andei em autocarros onde o assunto fosse discutido, não tinha televisão e a rádio estava permanentemente ligada na TSF, mas a francesa, que só interrompe o jazz à hora certa para dar umas notícias pouco desenvolvidas. E assim passei um dia completamente alienado do "acontecimento que mudou o mundo". Ainda tenho algumas edições de jornais de 12 de Setembro que me apressei a comprar, mas será que é possível compreender o 11 de Setembro sem ver as imagens dos aviões a entrarem pelas torres dentro, das pessoas chocadas a chorar, das torres a caír e da imensa poeira que se abateu depois? Este Verão ouvi o relato de um nova-iorquino que assistiu a tudo do telhado do seu prédio, onde nos sentámos num fim de tarde a beber umas cervejas. Sem puxarmos pelo assunto, ele apontou-nos o lugar vazio onde deveria estar o World Trade Center. Contou como alguém o acordou com o telefone, como uma pequena multidão de vizinhos e conhecidos se juntou no telhado para ver o que se passava e como todos se afundaram em lágrimas quando as torres caíram. E lembrou ainda o pânico quase infantil causado por outro avião - certamente uma aeronave militar ou de socorro - que sobrevoava a cidade, fazendo um monte de adultos gritarem de mãos no ar e correrem sem destino à volta do pátio. Esta podia ser perfeitamente uma cena de um filme cómico. Mas naquele momento não nos lembrámos de rir.

quinta-feira, setembro 2

OS JORNAIS E MICHAEL MOORE. Adoro o USA Today. Ou melhor, adoro o sucesso do USA Today. Foi o primeiro jornal do mundo (dentro do ranking dos melhores, pelo menos) a decidir que todas as páginas teriam cor e todas as secções infografias. Ainda hoje uma mão cheia de inúteis mentais acha que os produtos jornalísticos são tanto mais sérios quanto mais cinzentas forem as páginas. Mas adiante. Lembrei-me de vir aqui louvar o USA Today pela genial estratégia de pôr o Michael Moore a fazer a análise da Convenção Republicana. Pessoalmente, até acho que ninguém pode gostar verdadeiramente de Michael Moore. Ou se detesta ou se tolera. A escrita é pobre, os argumentos desproporcionados e mesmo os factos, apesar de verdadeiros, acabam distorcidos por tanta militância política. Mas é o homem do momento. Isso ninguém questiona. Pô-lo ali, na toca do lobo, sujeito a insultos que se converteram em notícia por todo o mundo, é um golpe de mestre. Nisto tudo, as crónicas são o menos. De qualquer forma, se quiserem ver, a última está aqui.